Nos últimos 11 anos, Pernambuco reduziu 64% a oferta de leitos psiquiátricos para internação na rede de saúde do Estado. Levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) revela que, no período entre 2005 e 2016, foram fechadas 2.102 vagas para pacientes psiquiátricos. A oferta disponível hoje no Estado, de acordo com o mapeamento, é de 1.191 leitos. Em 2005, era de 3.293 vagas. No ranking feito pelo conselho, Pernambuco é o estado com maior redução na quantidade de leitos do País. Fica atrás apenas de São Paulo, que perdeu 5.277 vagas, e do Rio de Janeiro, que fechou 4.340 leitos.

O levantamento, divulgado no final do mês passado, aponta que a oferta de internação psiquiátrica no Brasil foi reduzida em quase 40%. Das 40.942 vagas existentes em 2005, até o ano passado só restavam 25.097. “Nós estamos denunciando a irresponsabilidade de fechar os leitos de internação, sem oferecer uma rede de assistência adequada, que garanta o atendimento aos pacientes, principalmente os casos mais graves de doença mental”, afirmou o psiquiatra Emmanuel Fortes, 3° vice-presidente do CFM. O médico explica que o documento elaborado pelo conselho servirá como base para pressionar o Ministério da Saúde a rever a condução da política nacional de saúde mental. “Precisamos, urgentemente, discutir a reabertura de leitos adequados tanto de internação quanto ambulatoriais”, afirma Fortes.

O presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremepe), André Dubeux, reforça a crítica feita pelo psiquiatra. “Em Pernambuco, praticamente, só temos internação no Hospital Ulysses Pernambucano. E uma parte da unidade está interditada por apresentar problemas estruturais. Criamos um grupo de trabalho para discutir a situação do hospital, mas as ações ainda não aconteceram” afirma Dubeux. A psiquiatra Milena França, que atende no Ulysses Pernambucano, diz que a lei que propôs a reforma psiquiátrica ficou só no papel. “Fecharam os leitos, mas não criaram uma rede de assistência alternativa para atender, sobretudo, os pacientes mais graves. E a demanda vem aumentando, devido à combinação do uso de álcool e droga”, defendeu.

O gerente de Saúde Mental da Secretaria Estadual de Saúde, João Marcelo Ferreira, diz que a redução de leitos atende a uma política nacional, que transformou a lógica do atendimento de saúde mental no País. Ele afirma que uma rede paralela ainda está sendo formada, priorizando, inclusive, a assistência por parte dos municípios. “Temos 125 Centros de Apoio Psicossocial (CAPs) no estado. Precisamos aumentar esse número, o que já vem sendo pactuado com as secretarias municipais, para que elas também assumam o acompanhamento desses pacientes”, informou.

Os números

Levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina utilizou dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) para comparar a oferta de leitos na área de psiquiatria entre os anos de 2005 e 2016

No Brasil

Total de leitos

     2005 – 40.942 leitos

     2016 – 25.097 leitos

Leito por mil habitantes

     2005 – 0,22

     2016 – 0,12

Redução no período

     15.845 leitos foram fechados nos últimos 11 anos

     39% foi o percentual de redução da oferta de leitos no País

Aumento da população nesse período

     12% foi o percentual de crescimento populacional no Brasil nos últimos 11 anos

Ranking nacional

Pernambuco é o terceiro Estado com maior redução de leitos psiquiátricos.

Leitos fechados:

São Paulo – 5.277

Rio de Janeiro – 4.240

Pernambuco – 2.102

Minas Gerais – 1.880

Rio Grande do Sul – 1.273

Demanda alta

Estimativas do ministério da saúde mostram que, apesar da redução de leitos, a população que precisa de atendimento continua grande

  • 3% da população sofre de transtornos mentais graves
  • 6% de problemas mentais são decorrentes do uso de álcool e outras drogas
  • 12% dos brasileiros vão necessitar de algum atendimento em saúde mental em algum momento da sua vida      

Fonte: Jornal do Commercio