Duas empresas brasileiras, a Recepta Biopharma e a Cristália, ingressaram no seleto segmento de indústrias de biotecnologia aplicada à saúde humana que desenvolvem anticorpos monoclonais imunomoduladores (mAbs, na sigla em inglês).

A Recepta Biopharma, que produz moléculas para o tratamento do câncer, estabeleceu uma parceria com a indústria suíça 4-Antibody AG e com o Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer para tanto. Seguindo o mesmo caminho, a Cristália produz dois mAbs que entram agora em fase pré-clínica (de testes em animais).

“Estamos no início de nossa operação e pretendemos dar uma grande contribuição, em parceria com o Instituto Ludwig e a 4-Antibody AG, tanto em relação ao desenvolvimento de linhagens celulares para a produção de anticorpos como na condução de testes clínicos”, disse José Fernando Perez, presidente da Recepta e ex-diretor científico da FAPESP, durante a mesa-redonda sobre “Ciência, tecnologia e inovação na saúde”, na reunião magna da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro, em 8 de maio.

Coordenada por Eduardo Moacyr Krieger, vice-presidente da FAPESP, a mesa-redonda reuniu, além de Perez, Luiz Eugênio de Souza, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Ogari Pacheco, presidente da Cristália.

A proposta do encontro foi debater o estágio atual da pesquisa e desenvolvimento nas indústrias farmacêuticas brasileiras e a necessidade de estimular os investimentos em ciência, tecnologia e inovação no setor de saúde por meio do estabelecimento de parcerias entre empresas e universidades e instituições de pesquisa.

“A produção científica brasileira em saúde é semelhante à internacional, e é a área que mais demanda investimentos em pesquisa no país – a FAPESP, por exemplo, destina tradicionalmente entre 25% e 28% de seu orçamento para projetos de pesquisa em saúde. Por essas razões, é muito importante identificarmos quais os principais desafios enfrentados pelo setor para transformar o conhecimento gerado em inovação”, disse Krieger.

Na avaliação dos palestrantes, a entrada da Recepta Biopharma e da Cristália no segmento de produtos biotecnológicos ilustra a mudança de foco e a importância que a inovação passou a ter para as indústrias farmacêuticas brasileiras nos últimos anos com o advento da política de medicamentos genéricos.

Implementada no Brasil no início dos anos 2000, a política de medicamentos genéricos teve o mérito de possibilitar que algumas indústrias farmacêuticas brasileiras crescessem exponencialmente e pudessem competir com as multinacionais, além de estimular a formação de profissionais para atender ao aumento da demanda do setor, afirmaram os palestrantes.

Por outro lado, ela gerou um enorme déficit na balança comercial brasileira – porque praticamente toda a produção de medicamentos genéricos é feita com insumos importados –, além de uma briga entre as empresas para aumentar suas participações nesse mercado.

“Começamos a melhorar nos últimos anos algumas moléculas conhecidas com o objetivo de aumentar nossa participação de mercado e nos tornarmos mais competitivos em outros segmentos de mercado, além dos genéricos”, disse Pacheco, da Cristália.

Após seis anos de pesquisas, a empresa sintetizou o carbonato de iodenafila – princípio ativo do medicamento Helleva, lançado no final de 2007, e a quarta molécula usada hoje no mundo para o tratamento da disfunção erétil. As outras três são o citratro de sildenafila, utilizado no Viagra, da Pfizer; o tadalafila, princípio ativo do Ciallis, fabricado pela Eli Lilly; e o vardenafil, usado no Levitra, da Bayer.

A empresa sediada em Itapira, no interior de São Paulo, e detentora de 54 patentes também pretende inaugurar, até o fim deste ano, uma fábrica de princípios ativos oncológicos para produzir mAbs, outra de biofármacos e uma terceira de peptídeos. “Os dois mAbs que estamos desenvolvendo falam português com sotaque caipira”, brincou Pacheco.
 

A Cristália e a Recepta têm projetos de pesquisa apoiados pela FAPESP. Leia mais clicando aqui.

Fonte: Agência FAPESP