O Teatro de Santa Isabel ficou lotado, na última quinta-feira (12/01) para celebrar Sebastião Alves. Mestre Sebá, como é conhecido, o grande homenageado do 23º Janeiro de Grandes Espetáculos, estava ali para uma comemoração que ia além da honraria que estava recebendo: após vencer um câncer, encenar o espetáculo Olha pro céu, meu amor, baseado na sua trajetória, foi a coroação de uma vida dedicada à arte. A última vez em que se apresentou com Olha pro céu, meu amor no Santa Isabel, em 2006, dentro do JGE, foi sintomática na vida do artista, que estava pesando 24 quilos devido ao tratamento de um câncer. Sempre firme nos palcos, Sebá, que passou por 15 cirurgias para tratar a doença, se considera um milagre. De fato, a peça é um tour de force cuja execução só se explica por uma paixão profunda pelo fazer artístico.

Inspirada na sua vida, a montagem acompanha a trajetória de Zequinha/Bom Cabelo, interpretado por Sebá, da sua vida em família no "país de Caruaru" rumo ao Rio de Janeiro, em busca da realização de dois sonhos: ficar rico e conhecer seu ídolo, Roberto Carlos. Retrato do que por décadas foi o percurso de milhares de nordestinos, a migração para o sudeste é retratada na dramaturgia com um olhar minucioso, que se utiliza do humor para criticar as disparidades que marcaram o Brasil por séculos e permanecem. Ao mesmo tempo em que acompanha os percalços do pernambucano em terras cariocas, a dramaturgia foca naqueles que ficam: os pais e os irmãos de Bom Cabelo. A cadeira vazia deixada pelo primogênito vai, aos poucos, ditando o tom da vida de todos. Permeada por pertinentes números musicais, compostos por Jadilson Lourenço, a encenação é simples, mas criativa, encontrando sua maior fonte de sustentação do Grupo Feira de Teatro Popular, formado por Jô Albuquerque, Adeilza Monteiro, Luzia Feitosa, Charlene Santos, Gabriel Sá, Walter Reis, Rafael Amâncio, Ary Valença, Matheus Silva e Gilmar Teixeira.

O ritmo ágil do texto e da encenação funciona bem durante a maior parte da obra, mas perde força na última parte, quando a necessidade de fechar a história apressa desfechos que, subitamente, se apresentam pesados e melancólicos. No entanto, a mudança é tão brusca que a plateia não consegue se conectar. Ainda assim, Olha pro Céu, meu amor é um atestado da maestria de Sebastião Alves.

Fonte: Jornal do Commercio