De todos os estudantes que chegam ao terceiro ano do ensino médio na rede pública em Minas, 40% sequer se inscrevem para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), porta de entrada para universidades brasileiras. Para especialistas em educação, o dado demonstra a falta de perspectiva de quase metade dos alunos que dependem da escola pública e a necessidade de reformar o modelo de ensino. Os resultados do Sistema Mineiro de Avaliação e Equidade da Educação Pública (Simave), divulgados ontem, ajudam a entender o desestímulo nesses jovens: apenas 3,3% dos alunos no ensino médio estadual atingiram resultados satisfatórios em matemática; em português, foram 19%.

Os dados foram apresentados pela Secretaria de Estado de Educação e têm como base a Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb) em 2015. A secretária de Estado de Educação, Macaé Evaristo, reconhece a precariedade do ensino. Ela destaca que o fraco desempenho se reflete no baixo índice de inscrições do Enem e que todas essas informações servem de diagnóstico para nortear políticas públicas.

“Foi possível identificar que eles nem acham que fazer o Enem e entrar em uma universidade estava no campo do possível. Agora temos que trabalhar com a informação. Incentivar que esses alunos se inscrevam no Enem porque há dificuldades até em providenciar os documentos necessários”, destacou.

Fracasso. O professor Francisco Soares, da Faculdade de Educação da UFMG, destaca que o modelo atual do ensino médio fracassou e precisa ser completamente reformulado.

“O modelo atual desrespeita a realidade de muitos alunos. Poucos fazem o Enem, e parte dos que fazem tem um desempenho muito fraco. O ensino médio atua em um momento de dupla transição. Da escola para universidade e do jovem para vida adulta. Muitos desses alunos já precisam encarar o mercado de trabalho. Hoje se ignora essa transição para vida, e o resultado disso é acabar com a possibilidade de eles darem um passo além e irem para o curso superior”, afirma o especialista que nos últimos dois anos presidiu o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), órgão responsável pela aplicação do Enem.

A principal ação do Estado, no curto prazo, para melhorar os resultados, é o reforço escolar de alunos com desempenho ruim. Para isso, houve uma mudança de metodologia na aplicação da avaliação. Antes feita nos anos iniciais e finais, desde a última edição são realizadas em séries intermediárias, como sétimo ano do ensino fundamental e o primeiro ano do ensino médio. “Assim temos mais dois anos do aluno na mesma escola, onde poderemos atuar com uma intervenção pedagógica para que ele chegue em um nível melhor”, destaca Macaé.

Metodologia

Comparação. Como houve uma mudança na metodologia da avaliação, não há possibilidade de comparação dos resultados alcançados no Simave do ano passado com os dados das edições anteriores.

Entenda as provas e as mudanças propostas

As provas. O Sistema Mineiro de Avaliação e Equidade da Educação Pública (Simave) é composto por duas avaliações, o Proalfa (aplicado a alunos do terceiro ano do ensino fundamental para medir o nível de leitura) e o Proeb (aplicado a partir do quinto ano do ensino fundamental sobre português e matemática).

Proposta. Um projeto de lei que prevê a reforma do ensino médio está tramitando desde 2013 na Câmara dos Deputados. Ele está pronto para plenário.

Alterações. Entre as alterações previstas no projeto está o aumento da carga horária obrigatória e a inclusão de disciplinas optativas, em que o aluno pode escolher a área que tem mais interesse, além da opção de profissionalização em cursos técnicos.

Bom resultado no ensino fundamental

A boa notícia no Sistema Mineiro de Avaliação e Equidade da Educação Pública (Simave) foi o resultado do ensino fundamental. Entre os alunos do terceiro ano, 87,6% tiveram desempenho acima do recomendado, sendo que 32,6% atingiram nível elevado.

Para a secretária de Estado de Educação, Macaé Evaristo, o resultado se torna ainda mais significativo com a mudança de metodologia. “Antes, as provas tinham ajuda dos professores na leitura dos enunciados. Agora, os alunos fazem tudo sem auxílio”, comemora. (BM)

Fonte: O Tempo