Enquanto dirigia por uma rodovia estadual no Grande Recife, no ano passado, o vigilante de 43 anos Jason Arruda precisou parar o carro de repente, no meio da pista. Os carros buzinavam, já que não havia motivo aparente para o problema. Foi só quando chegou a polícia que Jason pôde explicar, com medo. “Não estou enxergando nada!”

“Veio de uma hora para outra. Começou a embaçar até apagar”, detalha. Ele parou por segurança, pediu para que agentes o levassem à casa de sua mãe e procurou um oftalmologista. “Você está acostumado a ver o mundo dentro de 40 anos e, de uma hora para outra, apaga a sua visão”, comenta. Por sorte, o problema de Jason não era definitivo. A baixa da visão repentina ocorreu por uma complicação da diabetes. A doença se caracteriza por um aumento nas taxas de açúcar no sangue e costuma causar alterações cardiovasculares no corpo humano. Por ser uma área altamente vascularizada e ter os vasos mais finos, a retina (estrutura do olho que capta a imagem e transmite para o cérebro) também sofre com as mudanças das taxas aumentadas de glicose. As barreiras vasculares podem se romper e sangra, dando lugar a uma condição chamada retinopatia diabética.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo têm baixas de visão ou cegueira devido a essa complicação, como explica o médico oftalmologista do Hospital da Visão de Pernambuco (HVISÃO), Marcus Matos. “A retina saudável é uma retina cuja circulação sanguínea se faz de forma eficiente. Na retinopatia diabética, existe destruição das barreiras dos vasos sanguíneos e esse comprometimento faz com que haja extravasamento de líquidos. Sangue, proteínas e gorduras”, afirma.

O grande problema da doença é a falta de acompanhamento médico preventivo. Como a retinopatia diabética nem sempre vem acompanhada de baixa de visão, os vasos podem estar comprometidos nas áreas periféricas do olho sem provocar sintomas. “O paciente só vai sentir alguma coisa quando ou se houver o comprometimento da área central da retina, que é a mácula. Alguns pacientes têm retinopatia diabética razoavelmente avançada e, se eles não tiverem edema de mácula, não vão se queixar.” Eis aí, portanto, a importância do exame preventivo de fundo de olho para identificar hemorragias. Jason sabia do perigo da diabetes, mas durante muitos anos não se cuidou. “Gostava de ir para uma pizzaria, churrascaria. Sabia que a diabetes poderia dar essa doença nos olhos, mas eu nunca imaginava que poderia ser comigo”, confessa. Infelizmente, ainda não se pode curar nem a diabetes, nem a retinopatia diabética. O ideal é manter o controle das taxas de glicose para evitar alterações sanguíneas.

Mesmo não havendo cura, a retinopatia diabética pode ser tratada com laser ou injeções intraoculares de medicamentos específicos. “O paciente pode manter a visão boa, perfeita, pelo resto da vida”, continua o oftalmologista. O laser promove a coagulação dos tecidos comprometidos, impedindo mais vazamentos e a progressão da doença. Já as injeções são aplicadas dentro da cavidade ocular, e sua função é bloquear a ação maléfica que a glicose elevada ocasiona nos tecidos vasculares da retina.

Jason passou por uma série de injeções e é por isso que consegue ver sem maiores problemas hoje em dia, depois daquela crise no meio da rodovia. “Na terceira aplicação eu já voltei a enxergar”, afirma. As injeções são feitas, em média, a cada 30 dias. Normalmente, quatro a seis aplicações são suficientes, mas pode variar caso a caso. Elas estão autorizadas pelo último rol de procedimentos liberados e obrigatórios publicado em 2018 pela Agência Nacional de Saúde (ANS) e são aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As operadoras de saúde são obrigadas a fornecer o tratamento, caso haja indicação médica.

Fonte: Jornal do Commercio