Algo que está constantemente presente na vida do ser humano e que muito se ouve falar sobre os seus efeitos maléficos é a radiação. O termo é usado para denominar a propagação de energia entre dois pontos no espaço ou em um meio material, que acontece com determinada velocidade. A carga presente nessa propagação pode ser natural ou proveniente de aparelhos construídos pelo homem e está classificada de acordo com a frequência de ondas. Entre as formas mais conhecidas estão as ondas hertzianas (de rádio ou TV), microondas, radiação infravermelha, ultravioleta, raios X e raios gama. Outra aplicação muito comum é na área da saúde, através do diagnóstico de doenças e tratamento do câncer. Embora estes procedimentos tenham a quantidade de exposição totalmente controlada, há outras formas de contato com a radiação das quais muitas vezes a população não se protege. A professora adjunta dos cursos de Biomedicina e Odontologia Rosângela Vidal concede entrevista ao Portal Asces sobre o tema e esclarece pontos importantes.

Portal Asces – Quais os perigos de exposição à radiação?

Rosângela Vidal – Uma das maiores fontes de radiação é a solar e muita gente não se protege. É uma radiação muito perigosa que pode de forma comprovada cientificamente causar lesões em nível do DNA, lesões estas que podem ser reparadas, porque a gente tem um sistema de reparo no organismo, de proteção, mas que acumuladamente ao longo da vida pode se tornar definitiva e causar problemas como o envelhecimento precoce e até o câncer.

Portal Asces – Quais seriam as principais formas de proteção?

Rosângela Vidal – As principais formas de proteção, no caso para a radiação solar, que é aquela fonte natural que é mais incisiva no organismo da gente seriam aquelas indicadas pelos profissionais médicos dermatologistas: o uso principalmente de filtro solar, de chapéus, principalmente para indivíduos de pele mais clara, mas também indivíduos de pele escura estão expostos.

Portal Asces – Deve existir diferenciação quanto ao fator de proteção?

Rosângela Vidal – Sim, dependendo do tipo de pele, há uma diferença nos fatores indicados; principalmente a pele do rosto, que é muito exposta. As pessoas só se preocupam em proteger o corpo quando estão expostas na praia ou no ambiente de lazer, mas na verdade hoje em dia a Sociedade de Dermatologia indica até no dia a dia de trabalho a proteção da pele que fica muito exposta como mão, braço, inclusive para ambientes de trabalho, para a radiação proveniente da tela do computador, da própria luminosidade do ambiente, os profissionais indicam proteção.

Portal Asces – E quanto aos profissionais que trabalham diariamente com radiação como o raio X?

Rosângela Vidal – Há uma questão interessante nisso, pois o paciente está indo ali de vez em quando, uma vez na vida fazer um raio X, o profissional está ali todo dia submetendo o paciente àquele raio X, então se esse profissional não se submeter a critérios de proteção nele mesmo, ele pode ter complicações. Para isso existem distâncias mínimas do aparelho, o profissional tem que sair da sala no momento que é emitido o feixe de raio X sobre esse paciente, e também existe um dosímetro que fica no corpo do profissional e é analisado mensalmente para ver a quantidade de dose que este está sendo exposto diariamente.

Portal Asces – Quais os tipos de pacientes que apresentam restrições à exposição por raio X?

Rosângela Vidal – Existem cuidados em alguns aparelhos de imagem para quem usa alguns tipos de próteses como titânio, ortopédicos, problemas cardíacos. A gravidez é um período que se deve principalmente no primeiro trimestre evitar o raio X, só se for uma situação extrema em que a mãe esteja correndo risco de vida. Porque o primeiro trimestre é marcado por uma sensibilidade muito grande desse feto, porque há um desenvolvimento embrionário muito grande, a organização dos órgãos (organogênese) é prioritariamente no primeiro trimestre, por isso que uma das indicações do profissional que está realizando o raio X nessa paciente é perguntar, principalmente para mulheres em período fértil, se ela está grávida. Se a resposta for positiva, o ideal é que não se faça se ela tiver alguma dúvida. Se ela está tentando engravidar e não souber se está grávida ou não, o ideal é que não se faça. Mesmo que a dose de raio X conhecida hoje pelos aparelhos seja uma dose abaixo de causar uma lesão orgânica, mas em mulheres grávidas, pelo feto ser um organismo tão exposto pela questão do DNA, da divisão celular ser muito exacerbada, o ideal é que não se faça.

Portal Asces – Qual a diferença em relação à exposição por radiação solar e esse tipo de radiação?

Rosângela Vidal – radiação solar, por ser uma fonte natural, ela não é uma fonte que a gente controla os níveis de radiação. Já a radiação proveniente de equipamentos vem de algo que foi elaborado por profissionais da área de Física Nuclear, e é totalmente controlada, os níveis são controlados do feixe da radiação, da quantidade. Por exemplo, a radiação é utilizada precisamente no tratamento de doenças, na radioterapia; mas é controlada, fracionada. O paciente que tem, por exemplo, um câncer e que vai se tratar com a radiação, ele tem uma dose que é fracionada, que é estudada pelo profissional médico para ver quanto ele aguenta por dia para ter uma melhor exposição. Mas, com o custo-benefício do tratamento da doença, é indicado que faça esse tratamento de radioterapia.

A radiação, quando é usada de forma errada, como a gente já viu, guerras atômicas, acidentes nucleares, mas ela é um advento muito positivo da tecnologia, pois ela é utilizada em duas vertentes que hoje são primordiais na área médica, na área de Odontologia e na área de imagem, que é o diagnóstico por imagem e o tratamento de alguns tipos de lesões tumorais com a radiação.

Portal Asces – Existem outros tipos de radiação além da solar e do raio X que são mais comuns no dia a dia?

Rosângela Vidal – Existem. Muitos aparelhos como, por exemplo, eletros domésticos, antenas de rádio, o próprio celular, o micro-ondas emitem radiação, só que estes tipos de radiação não são ionizantes, então a princípio não haveria problema. Só que a Organização Mundial da Saúde ainda preconiza que pessoas que usam aparelho celular por mais de 30 minutos por dia tem risco, porque apesar de não ser uma radiação ionizante, mas aquele local é muito aquecido, porque há uma energia de aquecimento gerada ali então não se sabe até que ponto isso pode estar prejudicando, ainda não se tem dados experimentais que mostrem ainda algum tipo de comprometimento, mas que só com o tempo isso vai poder ser comprovado ou não.