Crônica:
Teatrinho Para Quem Não Sabe
Em tempos recentes, foi possível que a televisão “televisionasse” um teatrinho meloso, sobre a vida “sofrida” de alguém que os desinformados e os desinformadores chamavam por “Vossa Santidade”.
O tal Ex-Nazista fora enaltecido com as mais variadas qualidades dignas da própria pureza divina e a correspondente da Rede Globo na Itália, em sua retumbante retórica sobre os feitos desse “homem magnífico,” que é “um exemplo de honestidade e sabedoria encarnado”, esqueceu de um pequeno detalhe: dentre os milhões de telespectadores, algumas dezenas não são idiotas.
A igreja católica é uma instituição arcaica e desumana, responsável pelos mais variados derramamentos de sangue pela história. Muito antes das cruzadas, até a conquista do novo mundo, os dedos podres dos papas, com tinta vermelha escreviam errado com letras tortas as leis a serem seguidas, sob pena de todos (exceto eles) sofrerem a fúria de Deus.
Quando o referido pastor alemão fora nomeado autoridade máxima da sagrada empresa, o site da Terra (que pertence à supracitada emissora de TV) correu para “esclarecer” alguns “boatos maldosos” sobre o passado deste, pois como todos sabem, ele servira o exército durante a segunda guerra mundial sob as ordens do “segundo anticristo”. Por que a pressa e a necessidade de se limpar a imagem de alguém que, supostamente, não tem ligação alguma com você? Deixo essa pergunta no ar para ser refletida…
Um homem que fora serviçal de Hitler, receber o título de santo, não é algo que me espanta, afinal o Vaticano fabricava e fabrica santos num ritmo vertiginoso. O papa João Paulo II beatificou mais de novecentos virtuosos e canonizou quase trezentos.
No topo da lista, entre os favoritos para o cargo, estava a figura do escravo negro Pierre Toussaint, reconhecido pela sua “heróica virtude”. O seu xará e contemporâneo é o Toussaint Louverture, também negro, escravo e haitiano; Enquanto Toussaint Louverture liderava a guerra pela liberdade dos escravos no Haiti contra as tropas de Napoleão Bonaparte, o “herói” Pierre Toussaint praticava a abnegação e servidão. Lambendo os pés e beijando as mãos de seu proprietário branco, ele exerceu a “heróica virtude” da submissão. Além da obediência perpétua e dos inúmeros sacrifícios que fez para o bem estar de sua ama, atribuem-se-lhe alguns outros “milagres” de menor importância.
A repórter citada anteriormente, em seu eloqüente texto jornalístico ainda teve a audácia de afirmar: “Bento XVI nos deu um grande exemplo de humildade”; e quando mostra imagens do local onde este irá passar o resto de sua vida, solta a pérola: “a simplicidade (do ambiente) impressiona!”.
Que exemplo de humildade alguém dá quando vive trancado em magníficos salões decorados com afrescos, esculturas no mais puro mármore, comendo da melhor comida, vestindo a melhor seda e bebendo do melhor vinho num cálice de ouro cravejado com pedras preciosas? E ao aparecer em público, sempre está cercado de câmeras, seguranças armados, e uma das melhores tecnologias em blindagem.
“A simplicidade impressiona”, fico realmente impressionado com a simplicidade daquele condomínio de luxo, exclusivo para a habitação dos membros de altos cargos da humilde igreja. Tenho certeza que nossa repórter nunca deu um “passeio” pelas ruas do Yemen; quem sabe o pouco que ela conhece sobre a Índia, talvez seja graças à novela da Glória Perez. Morando tantos anos num país que ainda conserva as belezas da arquitetura renascentista, deve tê-la feito se esquecer do lixo que se chama Brasil, onde a “simplicidade impressiona” de suas favelas e vielas sujas. Cujos barracos se amontoam uns aos outros encosta acima só esperando para serem derrubados na próxima enxurrada. E um povo que não se veste com seda, não bebe Vinho do Papa e sim do Frei, acredita nas palavras que saem da voz suave da emissora.
Real exemplo de humildade nos deu Jesus, que curava prostitutas e leprosos quando o procuravam. Buda que largou o conforto do palácio de seu pai para meditar no ermo. Gandhi cujos pertences eram um óculos, uma túnica, uma máquina de escrever e uma caneta, além de alfabetizar camponeses. Paramhansa Yogananda que trouxe à ciência da Yoga para o ocidente. E muitos outros que realmente podemos chamar de Seres de Luz.
O verdadeiro homem de Deus não se envolve com politicagem. Não se ouve o nome dele junto às palavras “escândalo” e “corrupção”. Um verdadeiro porta voz de Deus na terra traz Luz, Paz e Amor por onde anda, e não sofrimento e ilusão.
Sugiro que observem aquele que se diz o seu “guia”, para que ele não acabe “lhes guiando” para onde não se deve.
Hilton Boenos Aires é estudante de 5º período do curso de Direito da Faculdade Asces e integrante do Grupo de Teatro da Instituição.