Diz o velho ditado: “quem é coxo parte cedo”, motivo pelo qual, então, apresso-me em concluir este artigo, com bastante antecedência, antes que seja tarde demais.

Quando jornalista profissional, em Caruaru, lembro-me bem haver feito algumas reportagens e fotografias com o ceramista Vitalino Pereira dos Santos. Era esse, para ser preciso, o nome completo do mais afamado artesão de Caruaru. Com tal finalidade, desloquei-me até sua casinha de tijolo aparente, no Alto do Moura, onde fabricava seus bonecos de barro. Ainda hoje mantém-se conservada como era antes, graças à municipalidade que a tombou, tornando-a patrimônio histórico. Em visita que fiz, mais recentemente, encontrei-a igualzinha como a deixei pouco antes dele falecer. Espero que assim permaneça para sempre.

Mas meu desejo, no momento, é de falar de um outro Vitalino: o músico. Parece que eu o estou vendo, na sede do Comércio, tocando pífano. E para quem não sabe o que é esse instrumento musical, também conhecido por pífaro, informo tratar-se de uma flauta rústica, produzida do bambu, contendo de seis a nove orifícios e de som muito agudo.

Vitalino integrava uma das bandinhas. Caruaru tinha várias delas e uma das mais conhecidas era a formada por Sebastião Clarindo Biano, descendente dos mais afamados tocadores de pífano, então dirigente da “Zabumba Caruaru”. As fotos que dela tirei fizeram parte de minhas publicações. Uma delas, todavia, foi-me especialmente cedida e a guardo, ainda hoje, com muito carinho: a do músico Vitalino, tocando pífano. Esse fato despertou-me uma curiosidade, ou seja, indagar de Sebastião Clarindo as qualidades musicais do ex-companheiro musical Vitalino, tendo me confidenciado que “era melhor ceramista que tocador de pífaro”.

Apesar das restrições que eram feitas à bandinha, integrada, depois, exclusivamente de seis membros de uma mesma família, o ex-ministro Gilberto Gil, do Ministério da Cultura, certa vez, ao visitar a “capital do Agreste” e assistir a uma apresentação daquela banda, com todo seu orgulho de brasileiro, textualmente, asseverou: “uma das coisas mais espetaculares que já vi. Tem tudo: força, preciosidade rítmica, senso de divisão musical, de contratempo e de rebuscamento de ritmo. É coisa digna de músicos de grande gabarito.”

Vitalino, entretanto, apesar da fama adquirida nos grandes centros artísticos do sul do país, partiu para sempre, paupérrimo, em 20 de janeiro de 1963, vítima de varíola, doença que, nos dias de hoje, por certo, teria se curado facilmente. “Todavia, o destino quis assim".

Fonte: Artigo publicado na seção de Opinião do Diario de PE – 01/03/2012, pelo Advogado e Jornalista caruaruense Giovanni Mastroianni