A doença, que atinge de 1,5 a 2 milhões de pessoas no País, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), é desconhecida por 51% da população de acordo com uma pesquisa divulgada ontem pela Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH).

O levantamento – realizado em junho pelo Instituto Datafolha e apresentado durante a abertura do 21.º Congresso de Hepatologia – foi baseado em entrevistas com 1.137 pessoas de 11 cidades brasileiras. Entre os entrevistados, somente 8% citaram as hepatites virais quando solicitados a nomear doenças graves que conheciam.

Menos lembradas do que enfermidades como câncer, AIDS, diabete e tuberculose, as hepatites são responsáveis por metade das indicações para transplante de fígado no País (40% ocasionadas pela hepatite C e 10%, pela hepatite B). O tipo C é considerado o mais preocupante, pois 80% dos casos evoluem para a fase crônica. No caso da hepatite B, menos de 10% dos casos passam a ser crônicos e, na hepatite A, quase a totalidade é curada espontaneamente.

De 2009 para 2010, houve um aumento de 4,7% das mortes por hepatites no País. Em 2010, as três hepatites provocaram 2.518 mortes de acordo com o Boletim Epidemiológico das Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Em 2009, foram 2.406 óbitos. No mundo, 1 milhão de pessoas morrem a cada ano em decorrência das hepatites.

Apesar de atingir até 2 milhões de brasileiros, uma parcela muito pequena da hepatite C é diagnosticada, de acordo com o médico Raymundo Paraná, presidente da SBH. “Nossa assistência básica não está preparada para diagnóstico precoce das hepatites virais. O diagnóstico tem que ser por rastreamento e não por sintoma.”

Segundo Paraná, a hepatite só apresenta sintomas nas fases mais avançadas. Daí a importância de os grupos que se expuseram a situações de risco (transfusão de sangue antes de 1993, relações sexuais desprotegidas ou exposição a seringas, alicates ou agulhas compartilhadas) submeterem-se aos testes para verificar a presença dos vírus.

Na fase crônica, tanto a hepatite B quanto a C têm opções de tratamento que, na maioria dos casos, impedem a progressão da doença para a cirrose ou para o câncer de fígado. Para o especialista, as hepatites virais são doenças negligenciadas no Brasil: somente em 2002 foram criadas as diretrizes terapêuticas para a doença.

Além disso, acrescenta Paraná, as informações são escassas, como demonstra o levantamento da SBH. “Há quanto tempo temos informações e campanhas na televisão, nos jornais e no rádio sobre HIV? Esforço semelhante não é feito em relação às hepatites e muitos brasileiros teriam a vida salva caso fizessem um simples teste”, diz o presidente da entidade.

Os três tipos de hepatite:

Hepatite A – É transmitida por meio de contato pessoal ou água e alimentos contaminados. Não há tratamento, os sintomas tendem a sumir naturalmente após semanas ou meses e existe vacina para combatê-la

Hepatite B – Transmissão ocorre por intermédio de relações sexuais; de mãe para filho; por meio de contato com cortes ou ferimentos de pessoas contaminadas; transfusões de sangue feitas antes de 1993; compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas de barbear e escovas de dente. Nem todos os casos precisam de tratamento, mas a evolução deve ser acompanhada. Não tem cura, mas existe vacina capaz de amenizar o vírus

Hepatite C – É o tipo mais comum da doença e sua transmissão se dá com compartilhamento de objetos cortantes, escovas de dente, transfusões de sangue e contato com cortes e ferimentos de pessoas infectadas. Transmissão por via sexual ocorre, mas raramente. Tratamento é feito à base de medicamentos. Doença tem cura, mesmo quando apresenta fases mais crônicas

Fonte: Estadão