Com uma seleção de curtas e longas-metragens de primeira grandeza, homenagens mais do que justificadas e uma estratégia de marketing muito eficiente, que começou já no anúncio do evento, no Rio de Janeiro, no último dia 7, a 14ª edição do Cine PE: Festival do Audiovisual dá a largada hoje com a certeza de que muitas emoções vão rolar no gigantesco Teatro Guararapes, no Centro de Convenções. Desta vez, a cerimônia de premiação vai acontecer no Cine São Luiz, na noite de domingo (2 de maio). Ao final, será exibido o documentário de longa-metragem Continuação, de Rodrigo Pinto, que faz um retrato íntimo do processo criativo do compositor pernambucano Lenine.

Ao contrário do que aconteceu nas suas duas últimas edições (no ano passado, nem a presença do cineasta
greco-francês Costa-Gavras foi suficiente para melhorar o nível da programação), este ano a situação mudou da água pro vinho. “É tudo uma questão de safra. Assim como as vinícolas produzem vinhos bons num ano e no outro não, a safra do cinema brasileiro de 2010 é uma das melhores dos últimos anos”, explica o enófilo Alfredo Bertini, que organiza o festival ao lado da mulher, Sandra.

Ao todo, 36 títulos concorrem nas mostras competitivas de curtas digitais (12), curtas em 35mm (18) e de longas-metragens (6). Nesta categoria, entram em disputa os documentários Cinema de guerrilha, de Evaldo Morcazel, e Sequestro, de Wolney Atalla, e as ficções Léo e Bia, de Oswaldo Montenegro, As melhores coisas do mundo, de Laíz Bodanzky, Não se pode viver sem amor, de Jorge Durán, e O homem mau dorme bem, de Geraldo Moraes.

Logo de cara, a noite de hoje promete ser uma das melhores do festival, além de muito divertida. Entre os curtas em 35mm, vão disputar as atenções O filme mais violento do mundo, de Gilberto Scarpa (o mesmo do hilário Os filmes que não fiz, hit do festival em 2007) e o muito aguardado Recife frio, do cineasta e crítico pernambucano (ex-JC) Kléber Mendonça Filho.

Já laureado em festivais nacionais (Brasília, Tiradentes e Cachaça Cinema Clube) e internacionais (Toulouse e Lisboa), Recife frio tem conquistado crítica e público indistintamente. Para Kléber, a noite de hoje é uma das mais esperadas da sua carreira de cineasta: “Mesmo que Recife frio possa ser entendido de uma maneira universal, só aqui ele será compreendido em sua completude”. Com doses elevadas de sarcasmo e causticidade, o filme tem deliciado espectadores ao mostrar o comportamento dos recifenses quando a cidade muda drasticamente do clima quente para o frio.

Kléber acredita que Recife frio faz parte de um movimento, até então involuntário, que busca fazer uma defesa da arquitetura urbana da capital pernambucana, que está sendo sinistramente devastada. “Apesar de falar com amor do Recife, sinto uma certa raiva por vê-la maltratada e demolida para a construção de shoppings e torres’, indigna-se o cineasta, que agora está envolvido na pré-produção de O som ao redor, seu primeiro longa-metragem de ficção, com filmagens marcadas para começar em julho. Mais cinco filmes da produção local estão nas mostras competitivas, sendo dois na categoria de curtas digitais (Corpo urb e Do morro?) e mais três entre os curtas em 35mm (Azul, Faço de mim o que quero e Um médico rural).

O cinema pernambucano continua em evidência na noite de hoje com a homenagem ao cineasta Guel Arraes, que vai exibir hors concurs, seu mais recente longa-metragem, a comédia O bem amado, versão para o cinema da telenovela e seriado de Dias Gomes. Guel estará acompanhado da produtora Paula Lavigne e de parte do elenco do filme: Marco Nanini, José Wilker, Caio Blat, Matheus Nachtergaele e Andréa Beltrão.

Para o ano que vem, Alfredo Bertini adianta que o festival vai continuar com sua trajetória ascendente. “Como 2011 será o ano da Itália no Brasil, vamos fazer uma retrospectiva da obra de Giuseppe “Cinema Paradiso” Tornatore, que já confirmou a presença”.

Fonte: JC online