O relatório da Junta Internacional de Fiscalização a Entorpecentes (Jife), órgão das Nações Unidas, alerta para um fenômeno que tem sido cada vez mais comum em todo mundo.

"As pessoas tendem a achar que o abuso de medicamentos prescritos é apenas um uso inadequado de substâncias para tratar problemas de saúde", afirma o documento. "Mas esses incidentes são frequentemente resultado de um vício tão letal como a dependência de drogas como a heroína ou a cocaína", acrescenta.

O mesmo relatório admite que "o Brasil fortaleceu medidas relacionadas ao descarte e ao controle de medicamentos contra a anorexia – que tem altos índices de consumo no país". Segundo a Jife, o uso exagerado de drogas prescritas está em franca e rápida expansão em todo o mundo, e o número de viciados nessas substâncias já supera o de usuários de cocaína, heroína e ecstasy, somados. Por outro lado, o Brasil registrou uma diminuição no consumo de medicamentos tarja preta, que incluem os anorexígenos.

O psicofarmacologista Elisaldo Luiz de Araújo Carlini, diretor do Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas (Cebrid) e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma ao Correio/Diario que cerca de 13% da população brasileira já experimentou drogas ilícitas, enquanto 25% fizeram uso de drogas lícitas e solventes alguma vez na vida. "Estamos prestando muita atenção em drogas que não são tão utilizadas, e deixando de lado essas que são lícitas e têm uso ilícito, como os benzodiazepínicos e as anfetaminas, mais usadas por meninas e mulheres", explica. De acordo com ele, os benzodiazepínicos tiram a ansiedade e o nervosismo. "Outro tipo de uso das anfetaminas visa combater o excesso de peso e são frutos de uma deturpação cultural", acrescenta. Carlini, integrante da Jife até o ano passado, também alerta para a disseminação de energéticos entre os jovens e solventes.

O dossiê da Jife denuncia o aumento da apreensão de cocaína no Brasil (de 8,3t em 2001 para 19,7t em 2008) e a redução da produção da mesma droga na América do Sul – o plantio da folha de coca caiu 18% na Colômbia, o maior produtor mundial. Em todo o subcontinente, a queda foi de 8%, para 167 mil hectares. Por outro lado, o texto faz menção ao crescente número de laboratórios clandestinos no Brasil (principalmente de anfetaminas, metanfetaminas e comprimidos de ecstasy) e em outras nações do Cone Sul.

Um fenômeno novo incomoda o organismo sediado em Viena. O uso de "drogas do estupro", usadas para cometer crimes sexuais, está em forte ascensão. A substância aumenta o desejo sexual em níveis incontroláveis e o usuário deixa de ter controle sobre si, pensando apenas em manter relações com ou sem a anuência do parceiro. "O fenômeno evolui rapidamente, enquanto os agressores tratam de se esquivar dos controles mais estritos utilizando substâncias não incluídas nas Convenções Internacionais", afirma a Jife.

Fonte: Redação do Diario de PE