Encerrado em dezembro de 2009, o Projeto Temático “Biocatálise em síntese orgânica” é o terceiro coordenado desde 1999 por José Augusto Rosário Rodrigues, professor do Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Os catalisadores, substâncias que afetam a velocidade de reações químicas, são um insumo importante para a produção de fármacos. Mas, de acordo com Rodrigues, para evitar a toxicidade dos catalisadores químicos, os cientistas foram buscar, nas células de microrganismos como fungos e bactérias, enzimas de interesse – os biocatalisadores.

“Cada tipo de produto farmacológico precisa de um catalisador específico para realizar uma determinada reação. Por isso, temos nos dedicado a descobrir metodologias cada vez mais sofisticadas para a triagem de enzimas de interesse”, disse Rodrigues. 

As metodologias desenvolvidas buscam unir dois aspectos: alto rendimento e pureza óptica elevada. “Fazemos triagens com diferentes microrganismos para avaliar quais são os que têm melhor rendimento e os que têm atividade óptica, ou quiralidade – uma propriedade da molécula que garante sua não-toxidez”, explicou.

Os isômeros ópticos ou quirais – isômeros são compostos que possuem os mesmos constituintes atômicos, mas cujas disposições na molécula são diferentes, conferindo características diversas – desviam a luz polarizada, afetando a toxidez do produto.

“Os centros receptores do nosso organismo também são quirais. É preciso que o fármaco tenha complementaridade com eles para que seja reconhecido pelo organismo. Além disso, os novos fármacos só são aprovados pelas agências internacionais de controle quando a toxidez é comprovadamente baixa”, afirmou.

Uma das principais vantagens do uso de biocatalisadores no lugar dos catalisadores químicos, segundo Rodrigues, está no impacto ambiental. “Os catalisadores químicos são, em geral, muito agressivos para o meio ambiente. Os biocatalisadores não geram resíduos difíceis de descartar. O uso de um insumo natural como esse tem um apelo ambiental enorme, que pode determinar o sucesso comercial de um produto”, explicou.

Os biocatalisadores podem ser considerados uma aplicação da “química verde” – um conjunto de diretrizes voltado à redução do impacto ambiental dos processos químicos. “Um produto verde contorna a aversão do consumidor pelos produtos químicos. Por isso, os biocatalisadores geram grande potencial de mercado”, disse.

Outra vantagem é que, ao contrário dos catalisadores químicos, para executar as reações os biocatalisadores não precisam de temperaturas drasticamente elevadas. “As enzimas atuam em geral nas condições do ambiente. Esse é mais um motivo para que os biocatalisadores sejam usados como princípio ativo dos fármacos”, apontou Rodrigues.

Fonte: Agência FAPESP