Lançar um olhar para preservação dos seis biomas que compõem o território brasileiro, cada vez mais vitimados pela ação humana. Esse é o objetivo da Campanha da Fraternidade deste ano, lançada ontem no Jardim Botânico da capital pela Conferência Nacional dos Bispos no Brasil (CNBB), através da Arquidiocese de Olinda e Recife. O tema de 2017 é ‘’Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida’’, com o lema ‘’Cultivas e guardar a criação’’. No Estado, as ações são voltadas para a caatinga e mata atlântica, um dos biomas mais ameaçados do planeta. ‘’Pela sétima vez, a Igreja está proporcionado uma Campanha da Fraternidade ecológica e não poderia haver local melhor para fazer o lançamento do que aqui. Toda a nossa arquidiocese está dentro da mata atlântica. Temos que mostrar os desafios enfrentados por esse bioma e fazer com que as pessoas partam para a prática, mostrando que cada um pode fazer algo pelo meio ambiente’’, defendeu o arcebispo Dom Fernando Saburido. Para dar o exemplo, antes da celebração religiosa, o líder plantou uma muda de pau-brasil, espécie símbolo da mata atlântica e ameaçada de extinção. Agora, o tema será trabalhado nas escolas e universidades para conscientização.

O lançamento acontece no mesmo dia em que a Igreja Católica inicia um dos períodos mais importantes do calendário cristão: a quaresma. Assim como o local escolhido, a data também tem forte simbolismo: os 40 dias que precedem a Páscoa representam conversão. ‘’É um tempo em que a Igreja nos convida a tomar uma atitude de mudança de vida’’, lembrou o arcebispo. A missa que reuniu dezenas de fiéis, aconteceu às 15h, na quadra da Fundação CDL, ao lado do Jardim Botânico.

Para a gerente do equipamento, Zenaide Magalhães, a parceria com a igreja é muito importante. ‘’Traz outras pessoas para a realidade de conservação da nossa natureza. Aqui fauna e flora estão em um ambiente controlado, muito bem conservadas, mas precisamos das pessoas, porque a gente só conserva o que conhece e ama’’. O equipamento de 30,7 hectares é um santuário da mata atlântica e recebe em média 4 mil pessoas por mês.

No Brasil, existem seis biomas: pantanal, caatinga, cerrado, mata atlântica, Amazônia e pampas. A expansão das atividades agropecuárias e da urbanização tem provocado um impacto significativo na vegetação. O desequilíbrio ambiental é apontado por Zenaide como causador de várias epidemias, a exemplo das arboviroses. ‘’As mudanças estão provocando mutações nos animais. Quando você acaba com um predador natural, causa um desequilíbrio e o animal passa a ser vetor de doenças.

’A escolha do tema é um incentivo. Muitas vezes, a gente tem pouca informação sobre o assunto e esta é uma oportunidade para aprender’’, elogia a operadora de caixa Cleide dos Santos, 43 anos.

’’Gostei da escolha do Jardim Botânico. É importante que esse trabalho seja feito dentro das igrejas, principalmente na quaresma, que é tempo de renovação’’, Salienta a dona de casa Josefa Oliveira, 63 anos.

 

Recado do papa aos Brasileiros

BRASÍLIA – Sobre o objetivo da Campanha da fraternidade de promover relações respeitosas com a vida, o meio ambiente e a cultura dos povos o papa Francisco mandou ontem um recado aos brasileiros. ‘’Este é, precisamente, um dos maiores desafios em todas as partes da terra, até porque as degradações do ambiente são sempre acompanhadas pelas injustiças sociais’’, disse o papa em mensagem ao Brasil.

O papa destacou que o desafio global pela preservação, ‘’pelo qual toda a humanidade passa’’, exige o envolvimento de cada pessoa com a comunidade. Para ele, os povos originários de cada bioma ou que tradicionalmente neles vivem oferecem um exemplo claro de como convivência com a criação pode ser respeitosa. ‘’É necessário conhecer e aprender com esses povos e suas relações com a natureza. Assim, será possível encontrar um modelo de sustentabilidade que possa ser uma alternativa ao afã desenfreado pelo lucro que exaure os recursos naturais e agride a dignidade dos pobres’’, argumentou o papa.

Para o arcebispo de Brasília e presidente da CNBB, cardeal Sergio da Rocha, ninguém pode assistir passivamente à destruição de um bioma, por isso o assunto não pode ser deixado de lado pela igreja. ‘’Há muito a ser feito por cada um espontaneamente, como mudança no padrão de consumo, cuidados com a água e com o lixo doméstico, mas necessitamos de iniciativas comunitárias, que exigem a participação do Poder Público e ações efetivas dos governos’’, disse. ‘’Precisamos de um modelo econômico que não destrua os recursos naturais’’, ressaltou.

Em Brasília, o lançamento da campanha contou com a presença do deputado federal Alessandro Molon (REDE-RJ), presidente da frente Parlamentar Ambientalista. Ele pediu o apoio da CNBB à frente em projetos em tramitação no Congresso Nacional, destacando, entre eles, o projeto que quer liberar a venda de terras a estrangeiros. ‘’Essa compra não será para  proteger a biodiversidade, mas para estimular a exploração predatória e a serviço do dinheiro’’, disse.

Fonte: Jornal do Commercio