Quase 6 em cada 10 médicos formados no Estado de São Paulo entram no mercado de trabalho sem que tenham conhecimentos básicos de situações que envolvem cuidados dos pacientes.

    Por exemplo: 80% deles não sabem interpretar um radiografia e erram o tratamento de paciente idoso.

    É o que apontam os resultados do exame do Cremesp 2016, divulgados nesta quarta (8) pelo conselho médico paulista. A entidade realiza ‘’provão’’ desde 2005.

    A prova não é obrigatória para exercer a profissão, embora instituições tradicionais, como Unicamp, Unifesp e Santa Casa, tenham passado a exigi-la a partir do ano passado para entrar em programas de residência médica.

    Os dados mostram que o índice de reprovação no ano passado cresceu em relação à prova de 2015 (54,1% contra 48,1%), mas se mantêm na média em relação à série histórica da avaliação.

    ‘’Com exceção do exame de 2015, nos últimos dez anos o índice de reprovação ficou acima de 50%. É preciso que as escolas médias promovam melhorias nos métodos de ensino e imprimam mais rigor em seus sistemas de avaliação’’ diz Bráulio Luna Filho, diretor do Cremesp e coordenador do exame.

     Para a aprovação, o Cremesp exige que os alunos acertem mais de 60% das 120 questões da prova. Só 43,6% dos 2766 participantes atingiram essa pontuação.

     

Áreas problemáticas

    Sete das nove áreas que abrangem a prova tiveram resultados insatisfatórios. As médias mais baixas foram em saúde pública/epidemiologia (49,1), pediatria (53,3), e obstetrícia (54,7). Segundo os resultados, 71% dos recém-formados não acertaram diagnóstico e tratamento para hipoglicemia de recém-nascido, problema comum do bebês.

   Outros 70% não souberam indicar a conduta adequada em paciente com crise hipertensiva, doença que acomete 25% da população brasileira.

     Como em anos anteriores, as escolas médicas privadas continuam com pior desempenho em relação às públicas (33,7% contra 62,2% de aprovação, respectivamente).

     Em ambas houve aumento de reprovação em relação a 2015. Entre as públicas, de 26% para 38%. Entre os cursos privados, de 59% para 66%.

     Hoje, há 46 escolas médicas em atividade no estado. Dessas, 30 foram avaliadas no exame de 2016. As demais abertas há menos de seis anos, ainda não haviam formado turmas à época do exame.

      Para ajudar acompanhar os formados que reprovaram no exame, o Cremesp lançou o site Cremesp educação, que oferece cursos on-line gratuitos aos que obtiveram nota inferior a 6.

      O curso é realizado em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein e é desenvolvido a partir das dificuldades apontadas pelo exame. Em novembro, o Cremesp também lançou o programa Apem (Avaliação Periódica do Ensino Médico), em parceria com Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês. O programa é baseado no modelo do Nacional Board of Medical Examiners (NBME), dos EUA, uma instituição independente que avalia o conhecimento dos estudantes de medicina americanos e canadenses. No Brasil, a avaliação será optativa aos alunos e escolas médicas interessadas.

       Terá duas etapas: ciclo básico, aplicado ao graduandos do 3° ano; e ciclo clínico, aos estudantes do 5° ano. O programa é gratuito e deve ter início em agosto desse ano.

Fonte: Folha de São Paulo