Uma startup pernambucana é a única representante brasileira em uma disputa internacional que vai premiar projetos de empreendedorismo social com até US$ 1 milhão. A Epitrack, empresa que desenvolve plataformas online para detecção digital de doenças, foi a vencedora na etapa brasileira do The Venture e parte para a final mundial do evento, que acontece no dia 14 de julho em Nova Iorque. A empresa concorre com propostas de responsabilidade social de outros 26 países dos cinco continentes. Para votar clique aqui.

A representante brasileira apresenta um projeto que une a tecnologia e os biossensores de reconhecimento de células cancerígenas no sangue antes mesmo da formação do tumor. Esses casos serão identificados e mapeados em nível global, facilitando o entendimento desta que é uma das doenças mais enigmáticas da atualidade. O projeto, que tem parceria com o  Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika) da UFPE, tem como objetivo principal detectar antecipadamente indícios de alguns tipos de câncer. “Quanto mais cedo o câncer é identificado, mais fácil ele será curado. Vamos utilizar a tecnologia a favor dessa antecipação”, explica Juliana Perazzo Ferreira, Fisioterapeuta epidemiologista e sócia da Epitrack.

INSPIRE O PÚBLICO – Uma das etapas do prêmio consiste numa votação popular na internet entre os concorrentes. O The Venture destinará uma cota do prêmio no valor de US$ 250 mil (um quarto do total) durante cinco semanas, entre os meses de maio e junho, para que pessoas do mundo inteiro votem online no projeto mais inspirador. Essa etapa tem início no dia 9 de maio e vai até 13 de junho. A votação é semanal; ou seja, a campanha precisa incentivar o público a votar toda semana. Como único projeto brasileiro na disputa, a Epitrack pretende mobilizar os internautas do quinto país do mundo em número de usuários da rede (98 milhões, segundo  estudo do Banco Mundial).

A internet tem proporcionado o engajamento das pessoas em várias causas nobres. Essa é mais uma em que um simples voto pode fazer toda a diferença. Nossa expectativa em relação a final do The Venture é alta: acreditamos no impacto que nosso projeto pode ter na sociedade. Reconhecemos a qualidade dos concorrentes, mas, a saúde, como bem mais preciosos que temos, merece uma atenção especial”, explica Onício Leal, biomédico epidemiologista e sócio da Epitrack.  

THE VENTURE – Sob o mote “Vença do jeito certo”, o The Venture busca encorajar os empreendedores sociais mais promissores do mundo, que têm como objetivo novas formas de desenvolver o bem-estar coletivo. O prêmio consiste num fundo de US$ 1 milhão para startups que usam seus negócios para criar mudanças positivas e tem a missão de inspirar pensadores empresariais para a transformação da realidade mundial. O fundo é financiado pela marca Chivas Reagal.

ETAPA BRASILEIRA – A Epitrack foi escolhida na edição nacional do The Venture por um júri especializado, composto de nomes como Lucas Foster, Guilherme Lichand e Maria Prata. Na final em dezembro de 2015, a empresa venceu outras três finalistas com o projeto de para expandir as plataformas de detecção digital de doenças e integrá-las a biossensores com base em abordagem molecular. A iniciativa busca a identificação de células cancerígenas no sangue para a prevenção e tratamento precoce da doença.

A STARTUP – A pernambucana Epitrack foi criada por Onício Leal, biomédico egresso da Faculdade Asces, epidemiologista e mestre em Saúde Pública, e Jones Albuquerque, PhD em Ciência da Computação. Atualmente conta ainda com Juliana Perazzo Ferreira, fisioterapeuta, epidemiologista, com especialização e mestrado em Saúde Pública e doutoranda em Ciência da Computação. A Epitrack atua no que o mercado chama de “eHealth”: aplicativos e solução de Internet em conjunto com outras tecnologias de informação, focada na melhoraria do acesso, da eficiência, da efetividade e da qualidade dos processos clínicos e assistenciais necessários a toda a cadeia de prestação de serviços de saúde.

A empresa surgiu com a ideia de criar mecanismos para facilitar a coleta colaborativa de dados de ocorrências epidêmicas e mapeamento de surtos de doenças infecciosas. É responsável por aplicativos como “Saúde na Copa (2014)” e “Guardiões da Saúde (2015/2016)” (Brasil), “Flu Near You” (EUA e Canadá), “Salud Boricua” (Porto Rico), utilizados para identificar cenários de epidemias de síndromes respiratórias (Influenza), diarreica ou exantemática (inclusive por arbovírus como Dengue, Chikungunya e Zika).

A ideia é encorajar os usuários a compartilhar e descrever os sintomas, coletando os dados colaborativos que geram mapas interativos e mostram os locais afetados em diferentes áreas. O objetivo das plataformas, sites e aplicativos, é identificar rapidamente o risco de surtos e epidemias de doenças infecciosas para gerenciar a resposta efetivamente. Esses dados transmitidos em tempo real permitem que autoridades de saúde analisem cenários de risco. Quando é identificado um grupo de usuários com mesmos sintomas, no mesmo espaço e tempo, pode ser um indicativo de surto. Então as equipes de vigilância epidemiológica podem atuar na investigação e interrupção oportuna de ocorrência, agindo de forma mais rápida. Todas essas plataformas se encaixam na área que é conhecida como Detecção Digital de Doenças (DDD).

O financiamento do The Venture capacitaria o finalista brasileiro a dar andamento a um projeto para expandir as plataformas de detecção digital de doenças e integrá-las a biossensores com base em abordagem molecular. Desde 2015, a Epitrack realiza uma parceria com o LIKA-UFPE, laboratório que desenvolve pesquisas há 30 anos e desde 2005 utiliza a abordagem de biossensores, dispositivos que coletam pequenas quantidade de sangue e que são capazes de gerar diagnóstico para diversas doenças, incluindo não-transmissíveis, como o câncer. A parceria Epitrack-Lika gerou a oportunidade de desenvolvimento conjunto de uma solução baseada em biossensores e detecção digital de doenças para entender como o câncer tem se distribuído nas populações, favorecendo a compreensão epidemiológica da doença que representa um dos grandes problemas de saúde no mundo.

Seria possível, por exemplo, construir cenários epidemiológicos para câncer de mama, próstata e colo do útero, ampliando o número de exames realizados em todo o continente americano. Os recursos do prêmio seriam utilizados para expandir a área de atuação da startup e melhorar o laboratório de pesquisas, ampliando ainda contratações no campo de biologia molecular e de engenheiros de hardware.

PERFIL (CEO) –  Onício Leal é biomédico epidemiologista. Durante sua pesquisa de mestrado sobre epidemias brasileiras, enxergou um nicho de mercado que ainda estava em desenvolvimento no Brasil: o e-health, a comunhão entre tecnologia e saúde para facilitar a vida de usuários.

Como sistematizar dados e monitorar epidemias de uma maneira mais prática, tendo a tecnologia a seu favor? Assim nasceu a sua startup, a Epitrack. Ele, junto com mais dois sócios, começaram a desenvolver plataformas online para ajudar a monitorar doenças infectocontagiosas. Foram responsáveis, assim, no desenvolvimento do primeiro aplicativo de saúde brasileiro com perfil de vigilância participativa, onde o usuário fornece seus dados para o entendimento da doença: o Saúde na Copa. “Quando as pessoas baixam nossos apps e repassam os dados, conseguimos utilizar essa informação para entender o cenário atual de alguma doença específica ou até mesmo prever a ocorrência de surtos”, explica Leal.

Assim, a Epitrack desenvolveu com sucesso de usabilidade o app Flu Near You, que atua nos Estados Unidos e Canadá e faz mapeamento de influenza (inclusive de contágio do vírus H1N1) nos dois países. No Brasil, desenvolveram o app Guardiões da Saúde, para o Ministério da Saúde, que vai funcionar como a plataforma de vigilância participativa de saúde nas Olimpíadas, inclusive de doenças exantemática ( arbovírus como Dengue, Chikungunya e Zika).

A Epitrack tem também um projeto ousado: desenvolver uma ferramenta online de biossensores que detectam antecipadamente indícios de alguns tipos de câncer. Assim, o projeto vai conseguir sistematizar dados de reconhecimento de células cancerígenas no sangue antes mesmo da formação do tumor. Essa ideia inovadora foi reconhecida e ganhou a etapa brasileira do The Venture, competição internacional que dá um fundo de US$ 1 milhão para desenvolvimento do projeto mais ousado de startups voltadas a desenvolvimento social do mundo inteiro. A etapa final acontece em Nova York dia 14 de julho e a Epitrack estará concorrendo com 26 projetos de países dos cinco continentes. Por conta deste prêmio, Onício já figura listas importantes de empreendedores de sucesso do país, como a de “10 talentos que vão brilhar em 2016” da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios.  

Plataformas desenvolvidas pela Epitrack

Saúde na Copa – 2014 ~> Brasil

Flu Near You – 2014/2015/2016 EUA e Canadá

Salud Boricua – 2014/2015/2016 (apenas web) Porto Rico

Guardiões da Saúde – 2016 ~> Brasil

Epicrowd -2015: https://www.youtube.com/watch?v=3wRLLbAKoL0

Epihack – 2015: Primeiro hackathon de saúde do Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=SzLGD2MBV34

Prêmios recebidos:

Prêmio de Inovação em Ciência e Tecnologia para o SUS – 2014

The Venture Brasil – 2015

Sócios:

•    Onicio Batista Leal Neto (Sócio majoritário, Co-fundador e CEO). Biomédico epidemiologista, tem residência em saúde coletiva, mestrado em Saúde Pública, doutorando em Saúde Pública (todos pela fundação oswaldo cruz). Fundou o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde de Recife (CIEVS Recife), foi consultor da Organização Panamericana da Saúde (OPAS) e atuou junto a implantação da estratégia de Detecção Digital de Doenças junto ao Ministério da Saúde.

•    Juliana Perazzo Ferreira (sócia, CFO). Fisioterapeuta epidemiologista, tem especialização em saúde pública, mestrado em saúde pública (Fundação Oswaldo Cruz) e é doutoranda em Ciência da computação (CIn-UFPE). Atuou no Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde de Pernambuco, sendo responsável pela implementação de diversas plataformas tecnológicas para cenários epidêmicos.

•    Jones Albuquerque (sócio, co-fundador e CKO). Cientista da computação com mestrado e doutorado em ciência da computação. É professor e pesquisador do departamento de informática da Universidade Federal Rural de Pernambuco. É cientista-chefe do Instituto Senai de Inovação ISI-TICs.