A importância do Assistente Social na garantia dos direitos da sociedade e os campos de atuação do profissional da área são alguns dos temas abordados em entrevista concedida pela cooordenadora do Curso de Serviço Social da Faculdade Asces, professora Sheilla Nadíria.

Portal Asces – Qual é a função do assistente social? 

Sheilla Nadíria – Em uma sociedade como a brasileira, onde o contraste entre ricos e pobres é uma das suas características mais fortes, o Serviço Social é uma profissão que vem responder aos problemas gerados pela má distribuição da grande riqueza produzida em nosso país. Chamamos o conjunto desses problemas de Questão Social: precárias condições de emprego e renda, pouco acesso à alimentação, saúde e à educação, à moradia e ao saneamento básico, por exemplo. A função do assistente social é, pois, intervir sobre os impactos da Questão Social ao cotidiano dos agrupamentos populacionais, garantindo direitos e promovendo condições de vida digna à população. Essa atuação se dará através das políticas sociais (sobretudo, as públicas) na execução de programas, projetos e serviços sociais.
 
Portal Asces – Em quais áreas o profissional pode atuar?

Sheilla Nadíria – O assistente social pode trabalhar em vários espaços públicos e privados. Como executor eminente das políticas sociais, esse profissional pode atuar nas instituições como hospitais, escolas, secretarias de assistência social, institutos de previdência, ONG´s, empresas privadas, tribunais e até nas forças armadas. Ressaltamos que os espaços ocupacionais do assistente social se estabelecem onde haja a necessidade de fluxos institucionais entre recursos garantido por lei e a demanda social das populações. Em um hospital, por exemplo, o assistente social é responsável pelo elo entre todos os setores da unidade, facilitando o acesso do usuário aos serviços de saúde prestados. Na empresa, o profissional pode trabalhar na área de benefícios trabalhistas, facilitando a relação empregado-empresa. No espaço escolar, o assistente social estabelece os laços entre as comunidades, as famílias e a escola, promovendo a resolução de conflitos que possam ser limitadores de uma educação de qualidade. Nos vários espaços de atuação, o objetivo profissional é de garantir a inclusão de um maior número de pessoas ao direito social de uma vida melhor.
 
Portal Asces – Como é a formação acadêmica do estudante de Serviço Social? 

Sheilla Nadíria – A formação acadêmica em Serviço Social respeita as orientações da Lei 8.662, de 7 de junho de 1993 que regulamenta a profissão, das Diretrizes Curriculares definidas pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) para os cursos de Serviço Social no Brasil e das resoluções do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). O respeito a essas orientações garantem a qualidade da formação profissional e acadêmica do assistente social. Nesta, a postura investigativa, analítico-crítica e ética dos formandos é construída pela apreensão de conteúdos teórico-práticos das ciências sociais sobre as potencialidades e limites da sociedade brasileira através das atividades de ensino, pesquisa e extensão, bem como nas oportunidades de estágios curriculares.
 
Portal Asces –  O curso de Serviço Social da Asces desenvolve o projeto de extensão Diálogos: escola, família e comunidade, em uma escola pública de Caruaru. Em que consiste o projeto e de que maneira ele contribui para o cotidiano escolar e para a formação dos estudantes da graduação?

Sheilla Nadíria – O Projeto Diálogos foi construído a partir da demanda de uma escola estadual de Caruaru que sofria com os impactos de alguns problemas no cotidiano dos alunos: uso de álcool e outras drogas, a sexualidade na adolescência e as possibilidades do abortamento e gravidez na adolescência, a violência doméstica e urbana, o preconceito de credo, de etnia e de classe. Tais expressões da questão social interferem não apenas na escola na qual estamos trabalhando. É uma tendência no Brasil vivenciarmos esses problemas nas instituições educativas. Os professores e educadores se vêem em situação de dificuldades para enfrentá-los. Muitas vezes não possuem sequer tempo e necessitam de um profissional com especificidade técnica que possa trabalhar esses assuntos de forma mais ampla. Um profissional que aja focando não somente a escola, mas todos os sujeitos sociais envolvidos: pais, mães, alunos, professores e comunidade. É essa nossa função na escola – articular os sujeitos sociais envolvidos no processo pedagógico e potencializar suas forças para resolução dos problemas cotidianos acima citados. Nesse caso, nós, assistentes sociais, iremos articular o mundo da escola ao da nossa comunidade, servindo mesmo como elo entre o ambiente escolar e a sociedade. Para o processo formativo em Serviço Social, a oportunidade de colher conhecimentos teórico-práticos é, sem dúvidas, fundamental. Intentamos, no momento certo, expandir a experiência para outras instituições de ensino da rede pública.
 
Portal Asces – O curso de Serviço Social foi implantado na Asces há um ano e é o único na modalidade presencial em todo o Agreste. Qual a importância dessa iniciativa de trazer o curso para o interior do estado?
 
Sheilla Nadíria – Em um ano de atuação profissional aqui em Caruaru, percebemos, a partir de nossos vínculos com o Conselho Regional de Serviço Social, 4ª Região, que os profissionais em Serviço Social do Agreste carecem de espaços específicos de formação continuada. Ainda percebemos que por não serem formados aqui, não possuindo laços mais fortes com a região, esses profissionais atuam de maneira muito isolada. Estamos construindo um projeto de pesquisa que tem como objetivo conhecer e, posteriormente, servir como parâmetro de articulação de tais profissionais.  A existência do curso presencial significa a formação profissional afinada com as necessidades sociais da região e um ponto de interação dos assistentes sociais de Caruaru e dos municípios circunvizinhos. Só temos que nos orgulhar em poder contribuir dessa forma para o desenvolvimento do Serviço Social no Agreste, através de uma faculdade como a ASCES – instituição de ensino superior com mais de meio século prestando serviços educacionais de qualidade no interior de Pernambuco.
 
Portal Asces –  Qual a sua opinião sobre os cursos de Serviço Social a distância?
 
Sheilla Nadíria – Não se pode negar que estamos vivenciando uma fase de extraordinário desenvolvimento na educação com a utilização da informática e das tecnologias de educação à distância. Muito embora esse fato ocorra, questionamos os limites pedagógicos e humanos da utilização exclusiva desses recursos. Sabemos que nenhuma técnica pode substituir a interação professor-aluno no ambiente de sala de aula. Sabemos que essas inovações não estão disponibilizadas para esse fim. E, assim, a tentativa da substituição dessa relação única e especial que é a interação humana no processo educativo pode vir a tornar a formação profissional de qualquer área deficiente – com resultados negativos para a educação superior e para a sociedade que nem podemos analisar a extensão a curto e médio prazos. Pensamos a utilização da educação a distância com muito cuidado, sobretudo na área de Serviço Social, em que a categoria organizada nacionalmente através do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e as 24 regiões de Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS) já se posicionam de forma contrária a essa modalidade de ensino. Dessa maneira, não aconselharia a realização de um curso totalmente à distância, especificamente em Serviço Social , onde o contato em sala de aula é fundamental para a formação de posturas ético-políticas condizentes com as Diretrizes Nacionais para o Currículo dos Cursos de Serviço Social, da Lei que regulamenta a nossa profissão e do nosso Código de Ética Profissional.

Portal Asces – Como você vê o mercado de trabalho para o assistente social no interior de Pernambuco? 

Sheilla Nadíria – Como afirmamos anteriormente, somos gratos pela oportunidade de formar os primeiros assistentes sociais em modalidade presencial do interior de Pernambuco. Sabemos que a formação de qualidade repercute no mercado de trabalho de maneira positiva e concreta. Espaços ocupacionais mais bem remunerados e menos precarizados se abrem aos profissionais mais bem formados. Além disso, a chegada de profissionais qualificados ao mercado de trabalho significa que estes serão atuantes com consciência de seus deveres para com a humanização de nossa sociedade. Acreditamos que o mercado de trabalho para esses assistentes sociais é muito promissor.