Para analisar o panorama das eleições 2010, o Portal Asces entrevista Vanuccio Pimentel, professor da Asces dos cursos de Administração Pública, Direito, Fisioterapia e Serviço Social. Graduado em História, Mestre e doutorando em Ciência Política pela UFPE e pesquisador das áreas de Políticas Públicas, Reforma da Previdência e Análise Institucional. Ele fala do cenário político nacional e estadual, define consciência política e ressalta os desafios que serão enfrentados pelos parlamentares eleitos.

Portal Asces  – O que se desenhará nas eleições de 2010?
Vanuccio Pimentel – Teremos um processo eleitoral muito interessante. Pois, desde a redemocratização, esta será a primeira vez que não teremos a figura do Lula concorrendo e isso cria algumas expectativas. Caso se confirme a candidatura da ministra Dilma Rousseff e do Governador José Serra, veremos dois movimentos se desenharem: por um lado o discurso pós-lula encampado pelo Governador José Serra que ainda tem o desafio de tentar se desvincular da gestão FHC; do outro lado Dilma Rousseff apresentando os frutos do Governo Lula e tendo sua imagem vinculada a ele. Do ponto de vista da análise política o mais interessante será ver qual a capacidade do Presidente Lula de transferir votos para Dilma Rousseff, embora essa idéia de transferência seja questionada, o que se espera é verificar se todos os estratos sociais que o Presidente Lula possui capilaridade serão os mesmos a apoiar a Ministra Dilma.

Portal Asces – Qual será o cenário Pernambucano?
Vanuccio Pimentel – O cenário em Pernambuco é um pouco diferente, com as pesquisas dando como certa a reeleição do Governador Eduardo Campos, a oposição vive seu dilema de como construir um palanque sólido no Estado. O Senador Jarbas Vasconcelos não construiu um sucessor nos oito anos que passou no Governo do Estado e agora se vê pressionado por aliados para lançar sua candidatura, já que continua sendo um expoente no Estado. Marco Maciel e Sérgio Guerra vêm suas posições no Senado bastante ameaçadas, além da bancada de oposição na Câmara que pode minguar ainda mais, tudo isso, converge para a candidatura de Jarbas. No entanto, o próprio Senador parece não se sentir a vontade ou desejoso dessa nova candidatura o que põe a oposição em dificuldades de sobrevivência política no Estado.

Portal Asces – O que é consciência política e como exercê-la?
Vanuccio Pimentel – A consciência política é a percepção que o eleitor deve ter de que seu voto e sua participação devem gerar benefícios coletivos para a sociedade, que as instituições democráticas existem para redistribuir o poder na sociedade, delegando aos eleitos a possibilidade de fazer mudanças sociais e implementar políticas públicas para a coletividade. O maior desafio do eleitor é escolher um candidato não desejando obter um beneficio individual com seu voto. O processo eleitoral deve ser visto como uma forma de redistribuir poder e oferecer a possibilidade de benefícios coletivos.

Portal Asces – Apesar de todo alarde sobre os parlamentares envolvidos em escândalos de corrupção, muitos devem se reeleger? Por que isso ainda acontece?
Vanuccio Pimentel – São tantos escândalos, fundamentados e outros não, que o eleitor mediano parece não levar em conta esses escândalos na hora de votar. O voto de confiança no Brasil não é a maioria no caso de voto parlamentar, esse tipo de voto é geralmente balizado por outros elementos, benefícios diretos e individuais que eleitores podem receber ao votar em algum candidato. É possível afirmar, como muitos cientistas políticos já afirmam que existe certo “cinismo cívico” no comportamento eleitoral, em geral os eleitores condenam os casos de corrupção. Porém, muitos não tomam a corrupção como elemento condicionante na hora de votar. Esse tipo de comportamento acontece porque os envolvidos na corrupção não são punidos em sua grande maioria, dessa forma, ele volta à disputa e os eleitores não tomam mais casos de corrupção como forma de censurar determinado candidato, preferindo o ganho dos outros benefícios diretos e individuais.

Portal Asces – Qual o maior desafio que do futuro Presidente da República?
Vanuccio Pimentel – Creio que um dos grandes desafios é garantir a continuidade dos avanços sociais que o país vem tendo nos últimos anos. Mais de 23 milhões de pessoas saíram das faixas mais baixas de renda e passam a ter uma inserção maior no consumo, é preciso que esses avanços sociais tenham continuidade. Outro desafio é o novo papel que o Brasil desempenha no cenário mundial e as mudanças que vemos na geopolítica mundial, com a entrada de novos atores, geram uma necessidade de reforma das organizações internacionais. Novas questões como o aquecimento global emergem no cenário internacional e o Brasil vem tendo papel de destaque nestas discussões.

Portal Asces – E em Pernambuco, quais os maiores problemas que os parlamentares eleitos irão enfrentar?
Vanuccio Pimentel – Em Pernambuco existem desafios históricos que os representantes devem enfrentar, a assimetria entre região metropolitana e interior do Estado ainda é muito grande. Não apenas no desenvolvimento econômico, que tem se desenvolvido no interior nos últimos anos, mas as políticas públicas estaduais ainda são concentradas na região metropolitana. Desde as políticas de segurança pública, às políticas de educação e saúde.


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