O julgamento de uma das mais importantes figuras da história nordestina foi realizado, de forma simulada, nesta terça-feira (09), no Fórum Universitário da Asces. Alunos e professores envolvidos no Projeto Adoção Jurídica de Cidadãos Presos foram os responsáveis pela elaboração de toda a encenação. Eles desenvolveram as teses de defesa e de acusação, seguindo os preceitos jurídicos e incluindo informações históricas importantes para a contextualização. A encenação se passa em 1º de agosto de 1938.

O plenário do Tribunal do Júri ficou lotado de estudantes e da comunidade para conferirem o grande final. A primeira mulher a compor o bando de Lampião, Maria Bonita era vista pela sociedade como uma transgressora dos valores sociais. Afinal de contas, fugiu com um bandido, manuseava armas e ia para o confronto, na década de 1930, onde a figura feminina estava ligada apenas ao papel de mãe e de dona de casa. Pelo menos é o que destacam alguns historiadores. De fato, ela foi a primeira figura feminina a ganhar notoriedade nas páginas dos livros de história do nordeste brasileiro.

Ao longo da encenação, fatos históricos foram sendo contatos, tais como a decisão dela de sair de casa com Lampião, mesmo sendo casada com Zé de Neném num período em que a mulher não poderia, sequer, sair de casa sozinha. Como forma de tornar possível a idéia do julgamento, a organização resolveu inserir um fato diferente quando o bando de Lampião foi rendido na gruta de Angicos, na então Vila Bela (hoje Serra Talhada). Ao contrário dos assassinatos ocorridos na época, que resultaram na execução de todos os membros do bando, a polícia os teria prendido e entregues à justiça para o julgamento.

Durante o julgamento, Lampião e Dada – uma das melhores amigas de Maria Bonita no bando, foram as testemunhas de defesa. O marido traído também foi ao tribunal na bancada de acusação na tentativa de fazer justiça por ter sido abandonado por Maria Bonita. Enquanto que Maria Bezerra teria se envolvido numa briga com a companheira de Lampião sendo gravemente ferida na orelha, motivos que também a levaram ao depoimento negativo contra a cangaceira.

Por unanimidade, o Conselho de Sentença, formado exclusivamente por mulheres, personagens tradicionais da década de 1930, absolveram a cangaceira. Um resultado que surpreendeu a todos. Acusada de formação de quadrilha, homicídios e vandalismo, Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, sai do Tribunal do Júri livre.

Destaque Nacional
O programa Estúdio i do Globo News, apresentado pela jornalista Maria Beltrão, deu destaque ao júri simulado na terça-feira (09). Direto do Alto do Moura, a professora Perpétua Dantas idealizadora do júri, explicou como surgiu a ideia, sua importância e representação para as mulheres. A professora estava acompanhada dos professores e alunos da Faculdade Asces, devidamente caracterizados e uma banda de pífano composta só por mulheres na terceira idade, do grupo Moisés, do Centro Social São José do Monte. Confira a entrevista!

 

Vídeo disponível no site do programa Estudio i