“Minha Universidade, minha família ASCES”, por Veridiano Santos
ASCES UNITA- 61 ANOS FORMANDO
Minha Universidade, minha família ASCES
por Veridiano Santos*
Em Tempo, março chegou com o mesmo ritmo frenético de começo de semestre letivo. O Centro Universitário Tabosa de Almeida fervilhava de alunos dos mais diversos cursos, pra lá e pra cá, em busca de seus objetivos e sonhos. As bibliotecas estavam lotadas de gente fazendo suas pesquisas e os corredores e pátios testemunhavam saborosas conversas e perspectivas do universo estudantil. Os professores, por sua vez, envolviam o máximo que podiam seus alunos em aulas, monitorias e projetos de extensão. O ano de 2020 ensejava um clima de retomada e confiança em meio à crise econômica e política que vivia o país. Nesse meio-tempo, as notícias de uma epidemia na China eram lentamente assimiladas sem que se imaginasse os impactos indeléveis que traria a toda humanidade.
Muito rapidamente tudo mudou. A voracidade da COVID 19 levou autoridades a anunciarem o fechamento de universidades e escolas no país inteiro. A vida social foi sendo, pouco a pouco, obliterada e as pessoas obrigadas a experimentar fenômenos como isolamento social, quarentena, lockdown e outros que só conheciam de ver no cinema e nos livros de história. O medo, o pânico e a insegurança se disseminavam em todas as direções e todos fomos compulsoriamente remetidos aos domínios da vida doméstica, no que ela, notadamente, tem de agradável e entediante. O ambiente dramático e caótico deu vazão a antigas profecias e prognósticos hilariantes, ao passo que no Brasil o presidente zombava do coronavírus.
A ASCES-UNITA, um dos maiores centros universitários do interior do Nordeste, sempre muito povoada e concorrida, incrivelmente se viu triste e solitária, no meio de uma cidade desolada. Nunca a instituição criada há 61 anos pelo saudoso jurista Tabosa de Almeida enfrentou situação semelhante. Os Corredores ficaram vazios, os campus tomados por um silêncio sepulcral. O frenesi de alunos nas portarias todos os dias e o ruído de carros e buzina travando o trânsito na Avenida Portugal, simplesmente, desapareceram da cena pública. A paisagem urbana da cidade de Caruaru, marcada pelo vai e vem de milhares de alunos orgulhosos dizendo estudar na ASCES, foi surpreendentemente apagada. A praça Heleno Torres, sempre repleta de estudantes aproveitando os intervalos e fazendo seus movimentos culturais, sofre em situação de abandono, enquanto o tradicional relógio da universidade parece marcar melancolicamente os prenúncios de um novo tempo.
Apesar disso, a ASCES UNITA não parou. As tecnologias digitais e de comunicação permitiram a continuidade do processo educativo. De seus próprios lares, educadores e equipe técnico-pedagógica se reinventaram para garantir o que ficaria conhecido como Ensino Remoto. Foi bonito ver todo mundo superando dificuldades e obstáculos para chegar a cada aluno, onde quer que ele esteja. As conexões virtuais abrandam o trauma das desconexões presenciais, todavia não paramos de nos perguntar: quando tudo isso vai passar? É difícil dizer. Mas, certamente, nada será como antes. Estamos voltados para dentro de nossos lares e para dentro de nós mesmos, repensando a vida e o futuro. Enquanto isso, os profissionais da saúde substituíram os ídolos de novelas, os artistas de cinema, os jogadores de futebol e outros mitos que cultuávamos. Esses sim, merecem nossas reverências e nossos aplausos.
A pandemia nos priva do melhor de nossos dias: o direito de ir e vir, as relações no ambiente de trabalho. As amizades com quem partilhamos alegrias e preocupações ou ainda o abraço dos alunos todos os dias. Nossos encontros diários e nossos momentos de socialização foram anulados. Conversas, disputas, rivalidades e momentos coletivos que davam sabor a vida nos foram arbitrariamente subtraídos. Vivemos de memórias, afetos e descobertas. Uma delas é a falta de nossa rotina. Reinventando a existência, seguimos atormentados por lembranças carregadas de saudades, desejos e esperanças.
Saudade de escutar Paulo Muniz, nosso reitor, falar da importância e significação dos rituais universitários, de ver nossa querida pró-reitora Marileide Rosa saudar-nos nas reuniões pedagógicas citando com afeto Paulo Freire. Saudade da voz forte de Emília Pinheiro, a pró-reitora administrativa, nos alertando com cuidado para as questões profissionais e do e sorriso de Ana Paula Luna, nossa coordenadora pedagógica, que nos recepciona com carinho e abranda as tensões nos dias de congressos, encontros e cotidiano docente. Saudade da rua cheia de alunos, do papo na escadaria, do jantar no restaurante e até da brisa fresca que alivia o calor no caminho rumo à casa branca.
A propósito, não vejo a hora de ver entrar em campo novamente meu time de Enfermagem e de História. Apesar de que, sou convocado para também compor os times de Fisioterapia, Nutrição e Saúde Coletiva. Na linha de frente da enfermagem, vem a minha coordenadora, professora Valéria Gorayebe. Ela tem o time nas mãos e esbanja garra e disposição, sem jamais perder a elegância. Ao seu lado, atletas de renome que fazem a galera vibrar de emoção com a ternura de Ana Barreto, a companhia afável de Alec, o entusiasmo de Eline, a desenvoltura de Diego, a inteligência de Cíntia, a proatividade de Fabrício, a mística de Gêssica, a generosidade de Juliana, a sinceridade de Lidiane, a solicitude de Marília, a versatilidade de Michel, a amorosidade de Nayale, a doçura de Samira, a garra e candura de Rosa Régia, o pacifismo de Thyago e a alegria contagiosa de Vanessa.
Esse time já formou gerações de enfermeiros cuidadores, que estão espalhados pelo agreste pernambucano exercendo com muita qualidade suas atividades profissionais. Neste momento, a maioria deles está no front de batalha, atuando no combate a pandemia de coronavírus. E por falar nisso, enquanto escrevo essas linhas, sou surpreendido com a notícia de que companheiras da enfermagem da ASCES UNITA que atuam na linha de frente, foram contaminadas e lutam pela vida, adotando as medidas de saúde indicadas pelo protocolo médico. Elas sabem que contam o apoio de uma torcida gigante.
Já na História quem escala o time é minha coordenadora Rosineide Gonçalves. Ela chega logo afirmando a igualdade de gênero e cobrando resultados positivos. Para esta temporada, a treinadora contratada em Olinda, montou um escrete de peso, o qual já chegou polemizando, ao se posicionar contra injustiças, desigualdades e racismo. Os contratados para esta temporada foram Daniel, ágil e batalhador no meio de campo; Jefferson, que atua na ponta rasgando o bloqueio adversário; Romildo, um gigante na defesa demostrando segurança e muita habilidade técnica. A capitã da equipe é Lucielma, esta não só interpreta bem as linguagens como ainda facilita a comunicação entre o meio e o ataque. E é lá no ataque que estão as grandes promessas da equipe, Yago e Wilson, artilheiros nas últimas temporadas onde estiveram. Ahh quanto a mim, fico, por ali, junto de Armando e Paulo Jorge, na cabeça de área, sempre de olho numa oportunidade. Esse time promete surpreender os rivais.
Que vontade de ver de novo dona Creuza em plena atividade servindo à comunidade universitária no auge de sua maturidade. De escutar o vozeirão de Renato Cabral contando suas saborosas histórias e memórias. De ver Jovanka mediando nossas subjetividades. De apreciar Ademário falar de tecnologia, viagens e vinhos. De escutar Vasco e seu pUrtuguês de PUrtugal. Ah como estou ansioso para assistir a uma performance de Nerisvaldo Alves, um esquete de nosso teatro. Para ver João Alfredo ao piano e o Coral da ASCES exibindo música popular brasileira nas aberturas dos eventos. E por falar em eventos, como esquecer Ana Barbosa, Ana Amorim, Fabricio, Isabel, Juliana, na retaguarda organizando a infraestrutura das coisas para gente.
Parece que estou a ver o bate-papo animado na sala dos professores do campus 1, Adrya, Armando, Edimilson, Elba, Brasílio, Costinha, Ivania, Karla, Marco Aurélio, Marupiraja, Osório, Paula, Raimundo, Vanúcio e Taiza, que tomam café com filosofia, política e as temáticas do dia. Nos corredores encontro sempre o astral e alegria de Agenor, Arquimedes, Adrielmo, Diógens, Leógenes, Lúcio, João Manoel, Marconi e Wamberto. A afabilidade de Manoela, Marília Vila Nova e Renata. Em torno deles, dezenas de alunos que todos os dias os abordam para um comentário breve, uma dúvida de aula, uma indicação de autor e livro.
Dá vida ao nosso ambiente universitário o charme de Lígia Lima, a delicadeza de Beliza, e as vibrações de Walkiria. A personalidade de Ana Katarina, a expressividade de Eliana Vanessa e a garra de Roberta Granville. A paciência de Ellison, a tranquilidade de Emerson. A calma de Ana Cecília e a espirituosidade de Romão. A bravura de Maria do Carmo, a determinação de Soraya, a irreverência de Wilmar e a seriedade de Fernando. E as resenhas da dupla Risonildo e Rosiel.
Como não lembrar a performance de Jorge, Joelma e do saudoso bigode, e da galera animada nas confraternizações. Como é bom contar com a cortesia e a confraternidades de Diana, Ilka, Ilza, Rosângela, Saulo, Sibele e a acolhida amistosa de Ana Paula, Germana, Heronilda, Jokabel, Milena, Sueli e thamyres. Dos amigos Marcos, Patrícia, Seu Manoel, e tantos outros que a memória já não dá conta, mas que me horam com sua companhia nos mais diversos espações e ambientes de nossa instituição.
Ahhh querida ASCES! Esse maldito vírus nos afastou temporariamente. Todavia, muito em breve, voltaremos para um encontro histórico. De minha casa celebro os teus 61 anos e brindo a todos os operários que desde a fundação tocam à frente esta obra magnifica do Saber. Sonho com a chegada da primavera como se estivéssemos saindo de um longo período de inverno. Até lá, peço aos amigos e parceiros de jornada que se cuidem e se protejam, ouçam as autoridades de saúde e não deixem de se sensibilizar com os que mais sofrem.
Confiem na Ciência e em Deus.
Avante ASCES-UNITA!
* Veridiano Santos é professor da Asces-Unita há 14 anos e leciona Sociologia, Antropologia e História da Saúde.