Seis mitos que atrapalham o aprendizado de uma língua
Só dá para falar bem uma língua quando se aprende desde criança. Mais cedo ou mais tarde, quem estuda algum idioma se depara com essa frase. Mas apesar de ser bastante conhecida, essa máxima não é uma verdade absoluta, como muitas pessoas podem pensar. Pelo contrário, ela é só um dos inúmeros mitos envolvidos neste tipo de aprendizado.
Mitos sobre o aprendizado de um idioma atrapalham o desenvolvimento dos estudantes – Fotolia
Janine Barbosa, gerente de cursos da Cultura Inglesa no Rio, diz que crenças como essa podem funcionar como barreiras, desestimulando quem está tentando aprender um idioma. A especialista recomenda que os estudantes deixem esses mitos de lado e se concentrem nos estudos.
– O mais importante é ter um envolvimento pessoal no aprendizado. Quando há vontade, encontram-se as ferramentas necessárias para praticar, as habilidades internas para compreender uma língua estrangeira – recomenda Janine.
Sobre a frase que abre a matéria, Janine desmitifica a ideia de que a fluência completa só vem quando se é mais jovem. Ela diz inclusive que aprender quando se é mais velho também tem vantagens.
– A pessoa mais madura já chega à sala de aula sabendo o que precisa aprender, o que será útil para sua vida. Além disso, ela sabe como facilitar internamente o aprendizado, coisa que os mais jovens muitas vezes ainda não conseguem.
Para a gerente de cursos, a rotina puxada e o estresse da vida adulta são as características que de fato podem atrapalhar alguém mais velho. Mas não a idade propriamente dita.
Veja a seguir mais cinco mitos que atrapalham o aprendizado de um idioma.
1 – Sem chances para os tímidos
Outro mito bastante comum é achar que só pessoas extrovertidas conseguem falar bem um idioma. Cristina Shibuya, coordenadora de cursos e exames do Goethe-Institut de São Paulo, rebate essa ideia.
– Qualquer pessoa pode aprender qualquer idioma, desde que tenha uma motivação para isso – afirma Cristina, deixando claro que a personalidade não é impeditiva para nada.
Janine sugere que os alunos mais reservados procurem participar de conversações em que sejam observados por professores sem serem corrigidos no ato, de preferência sobre assuntos que dominem no dia a dia.
2 – Nada substitui uma viagem para praticar
Dá para praticar um idioma com os nativos dele sem precisar viajar ao país de origem do idioma. A tecnologia é a grande aliada neste sentido.
Existem hoje sites e aplicativos em que pessoas do mundo todo se cadastram para conversar em diversas línguas – com predominância de inglês, mas espaço para praticamente todas as que são faladas nos quatro cantos do mundo.
– Além da conversação, ganha-se muito na exposição a outras culturas, outras realidades. Adquire-se uma noção de mundo e uma percepção que vão além do idioma – avalia Janine.
Dá para conversar com os nativos de uma língua sem precisar viajar. Sites e aplicativos facilitam o acesso a estrangeiros dispostos a conversar – Fotolia
3 – O aprendizado é melhor se o professor for nativo
Nos níveis básico e intermediário, os professores brasileiros que são fluentes no idioma e se capacitam continuamente para dar aulas são mais indicados do que os nativos. A gerente de cursos da Cultura Inglesa explica por quê:
– O brasileiro consegue entender as razões que levam a determinados erros de quem tem o português como língua-mãe. O nativo obviamente sabe todo o idioma, mas dificilmente conseguirá ter essa noção para ajudar um aluno que esteja começando a aprender.
4 – Alemão e japonês são difíceis demais para um brasileiro
Não existe língua difícil demais, de acordo com Cristina:
– Existem clichês em relação a uma suposta dificuldade para idiomas como o alemão. Um dos motivos desses clichês é o fato de o som dessas línguas não ser conhecido e difundido em diversos meios de comunicação, como acontece com o inglês, por exemplo. O não conhecido pode ser interpretado como “difícil”, mas língua desconhecida não é sinônimo de língua difícil demais.
5 – Quando o curso acaba, não é preciso mais estudar
Essa crença pode ser motivo de frustração para a pessoa que finalizou o curso formalmente (ou seja, chegou ao último estágio do nível avançado), ficou alguns meses ou anos sem praticar a conversação e precisar voltar a falar ou escrever aquele idioma de uma hora para outra:
– Qualquer aprendizado é contínuo, não só o de línguas estrangeiras. Quando a gente para de fazer alguma coisa, é normal ficar “enferrujada”. Isso só é evitado praticando mesmo. No caso de uma língua, é preciso manter a conversação, assim como ler e escrever pelo menos de vez em quando. Pode ser tanto em um curso quanto por meio de outras ferramentas; ou até conversando com pessoas que também o dominem. Mas não existe acabar de aprender – conclui Janine.
Fonte: O Globo