Em presídio de Minas os detentos ficam soltos, estudam e trabalham; e não existe violência
Em meio à crise carcerária no país, um presídio em Paracatu, Minas Gerais, mostra que é possível um novo modelo de reclusão. Por lá, os presidiários trabalham com artesanato e crochê para obter renda, além de estudarem durante o tempo de pena. Com 10 anos de funcionamento, o local nunca teve nenhuma rebelião ou motim e atingiu um índice de recuperação de 60% da população carcerária.
A diferença está principalmente no tratamento recebido pelos presos na APAC Paracatu, uma das 39 APACs (Associação de Proteção e Assistência a Condenados) de Minas Gerais. Por lá, não interessa o crime cometido por uma pessoa, ela sabe que será merecedora de atenção. O próprio edifício em que os presos ficam é bem cuidado, com pintura renovada pelos próprios detentos a cada ano. São eles também os responsáveis pela segurança interna, enquanto trabalham para garantir a renda familiar.
Ao todo, 114 presos vivem nos dormitórios da APAC, onde não há trancas. Durante o dia, eles estudam e trabalham nas oficinas oferecidas pelo presídio, que vão de artesanato a marcenaria. Muitos aproveitam o tempo para realizar cursos profissionalizantes e saem de lá mais qualificados e prontos para serem reinseridos na sociedade. A dedicação ao trabalho e ao estudo ajudam a abater os anos de pena.
Mesmo assim, há um longo caminho para chegar à APAC. Todos os presos vêm de presídios tradicionais, onde cumpriram parte de sua pena. Para conseguir a transferência, eles precisam apresentar bom comportamento e solicitar por escrito uma autorização judicial, que precisará ser aceita pelo juiz local. O detento também precisa assinar um termo se comprometendo a seguir as normas de disciplina da instituição. Como resultado, os presídios na redondeza também passaram a não ter mais rebeliões, pois os presos melhoram seu comportamento na expectativa de conseguir transferência para a APAC.
Todo o funcionamento é realizado em parceria com a Pastoral Carcerária, bem como um time de voluntários. Há ainda 14 funcionários contratados, entre eles cinco ex-presos, que trabalham como inspetores de segurança e supervisores de oficina. Graças a esse modelo, os custos para o estado com cada preso da APAC são de apenas R$ 915 contra cerca de R$ 4.500 para os presídios convencionais.
O terreno em que a instituição funciona foi uma doação da Igreja Católica e recebeu verba de R$ 1,1 milhão do estado, bem como doações de R$ 700 mil dos moradores da cidade. Hoje, a construção conta com dois pavimentos, auditórios e até um consultório odontológico, onde os detentos podem colocar aparelhos ortodônticos ou realizar implantes dentários, como uma forma de recuperar a autoestima e saúde bucal.
Fonte: Hypeness