Antenados em uma maratona
Não é recomendável, mas nestas férias você pode ver sem parar, pela internet, todas as temporadas da maioria das séries indicadas ao Globo de Ouro. Pode ser via celular ou seu velho televisor, usando fio para se ligar ao laptop ou consoles de games e outros dispositivos. Você pode ver Stranger Things e The Crown na Netflix (R$19,90 mensal). Mozart in the Jungle e Transparent na Amazon Prime Video (cerca de R$10, nos primeiros seis meses). Game of Thrones, Westworld e Veep na HBO Go (R$34,90), esta de alcance digital por enquanto limitado ao Distrito Federal e a Espírito Santo, Bahia e Mato Grosso do Sul. Pode assistir também às séries da Globo Play (R$14,20 por mês), concorrente brasileira das três, com títulos como Dois Irmãos, que estará disponível na semana que vem, Nada Será Como Antes e Supermax – esta a primeira experiência da rede com produção, antes de mais nada, para a internet.
Maratonas
Com Supermax, disponível desde setembro, a Globo testou se o brasileiro se dispunha também ao "binge watching", a ver uma série sem parar. "Binge", em tradução literal, é farra, bebedeira. No caso, tem sido traduzida recatadamente como maratona ou imersão. A Globo comprovou que sim, o brasileiro gosta de farra. A cada novo episódio era maior o percentual de retenção, de espectadores que seguiam para o próximo. Repetindo uma dinâmica já conhecida de "binge", um episódio intemediário, o quinto, foi marcado como "viciante" pela Globo Play: a partir dele, a retenção de um salto.
Não foi o bastante para salvar uma série que, posteriormente, não deu maior audiência na TV aberta. Supermax não terá nova temporada, mas as experiências digitais da Globo vão prosseguir, agora com Dois Irmãos, que tem Luiz Fernando Carvalho como diretor artístico. Elas já vêm de quase dois anos. "A gente tem pesquisado profundamente isso [BINGE] desde o começo de 2015", relata Alberto Pecegueiro, diretor-geral da programadora Globosat, que estuda "em conjunto com a TV Globo" a produção de séries brasileiras para o serviço de internet de grupo. A principal lição que ele tirou das pesquisas digitais é que "tem que fazer um processo de reeducação, entender que é uma outra mídia. Não pode olhar com a mesma lente [das TVs abertas e pagas]. O processo de consumo é diferente". Por exemplo, "é muito fácil para o assinante cancelar a Netflix, assim como é muito fácil assinar".
Outro Negócio
Em cinco anos Brasil, reconhece Pecegueiro, a Netflix "foi muito educativa, para mostrar que é um outro negocio mesmo". E seu "mérito maior é ter criado algo novo, o 'binge watching', a imersão em uma série, que a indústria não tinha e representa um salto". A Netflix também fez suas pesquisas sobre "binge" no Brasil. A exemplo da Globo Play, evita divulgar dados que possam indicar audiência ou quantidade de assinaturas, mas ajuda a desenhar o perfil do usuário brasileiro, como o fato de demorar mais para completar uma temporada.
Os levantamentos confirmam, segundo a porta-voz da Netflix América Latina, Amanda Vidigal, que o fenômeno da maratona com séries "existe, com certeza", também no Brasil. Para Erik Barmack, vice-presidente de séries internacionais, assistir programas assim "será o padrão" em poucos anos. Ele conta que a decisão de dar acesso simultâneo a todos os episódios de uma temporada, que levou à revelação do "binge watching", foi tomada em 2012, quando foi ao ar Lilyhammer, o primeiro "original" da Netflix, em coprodução com a TV estatal noruegresa: "Existia a alternativa da base semanal, da TV linear, e a ideia de fazer isso também no serviço pela internet para manter a conversa sobre a série durante um certo tempo. Mas a decisão foi que a escolha do consumidor vem antes de tudo. E agora, com as pessoas assistindo em 'binge', elas mostra mais paixão quando conversam sobre a série on-line, na maneira como recomendam para seus amigos."
Fonte: Jornal do Commercio