Uma década de contribuição à saúde bucal
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2009 morreram 6.510 pacientes, sendo 5.136 homens e 1.394 mulheres vítimas do Câncer de Boca. De acordo com o mesmo instituto, estima-se que para 2012, no Brasil, ocorrerão 14.170 novos casos, sendo 9.990 envolvendo homens e 4 mil 180 mulheres. São esses dados preocupantes, o desejo de ensinar, ajudar ao próximo e formar grandes cirurgiões-dentistas, que o professor e coordenador do Projeto de Extensão Universitária Asa Branca de Combate e Prevenção ao Câncer de Boca, trabalha há dez anos para melhorar a saúde da boca da população Nordestina.
Desde que foi criado em 2002, já foram visitados 51 municípios, com a realização de 81 campanhas em três Estados diferentes. Em Pernambuco, a Zona da Mata Sul e Norte, o Agreste e o Sertão; na Paraíba, cidades do Sertão (Princesa Isabel), no Agreste da Borborema e na região do Cariri (Boqueirão e Queimadas e Congo; e em Sergipe, no Alto Sertão, o município de Canindé de São Francisco receberam as equipes de estudantes do curso de Odontologia da Faculdade Asces e o professor Uoston ávidos pela missão de levar saúde bucal para a comunidade.
Essa peregrinação resultou em 139.892 adultos e 29.830 crianças examinadas, desses 27. 121 adultos foram diagnosticados com lesões de boca e 1.225 crianças apresentaram lesões.
Isso tudo iniciou quando o cirurgião-dentista e professor, Uoston Holder, foi convidado pelo o professor Renato Cabral para lecionar na Faculdade Asces, após 25 anos de carreira acadêmica e se aposentar em Natal, Rio Grande do Norte. Convite aceito, em 1999, ao chegar à instituição, percebeu que dentre os vários atendimentos que as clínicas odontológicas realizavam, faltava exatamente um voltado a sua especialidade, a estomatologia (diagnóstico e tratamento da doença de boca).
“Resolvi montar a clínica de estomatologia e percebi que a maior dificuldade seria conseguir pacientes, sem eles não existia a possibilidade de trabalharmos”, relata Holder. Experiente, o professor resolveu executar o mesmo trabalho que fez na Capital do Estado, quando lecionou na Pós-Graduação, na atual Faculdade de Odontologia do Recife (FOR), onde com 18 estudantes realizaram uma campanha de porta em porta, no Bairro de Santo Amaro, para conseguir pacientes. “Visualizei que esse seria o caminho para conseguir pacientes para nossa clínica. Então, eu e mais 30 estudantes fomos para o Alto do Moura e fizemos a campanha Mestre Vitalino, e de porta em porta os diagnósticos começaram a aparecer e os pacientes com lesões encaminhados para nossa Instituição”, comenta Holder.
Nessa primeira campanha, em 2001, ainda não existia o projeto de fato e nem o nome Asa Branca, mesmo assim, foram examinados 778 pacientes e 208 foram diagnosticados com lesões. Com pacientes, iniciou de vez a clínica de estomatologia da Faculdade. A segunda campanha ocorreu na cidade de Caetés, a terceira no distrito de Terra Vermelha, em Caruaru e recebeu o nome de “Tabosa de Almeida”, e a quarta, no município de Ibirajuba.
Ao voltar da campanha de Ibirajuba, o professor foi tomado pela missão de debruçar-se sobre o papel e de fato conceber o Projeto de Extensão Universitária Asa Branca de Prevenção e Combate ao Câncer de Boca e apresentar à Instituição. Quase dois anos depois, em 2003, o projeto se tornara uma realidade. “Com a realidade do projeto as campanhas tomaram conhecimento da imprensa, as rádios e os jornais nos ajudaram bastante na divulgação do trabalho junto os municípios e o Asa Branca, nome em homenagem a Luiz Gonzaga, cresceu rapidamente e mais cidades da região solicitavam nossas campanhas”, lembra Holder.
Em 2005 foi o ponto auge do projeto com a assinatura do convênio com o Ministério da Saúde e a inauguração da clínica Asa Branca através do Brasil Sorridente e do Pró-Saúde, em Caruaru. “Houve um encontro de coordenadores de saúde bucal aqui na Asces e um dos conferencistas foi Gilberto Pucca, Coordenador Nacional de Saúde Bucal, e o então coordenador do curso de Odontologia, Petrônio Martelli, o levou para me conhecer e mostrar o projeto, no qual ele ficou encantado e prometeu levar para o então Ministro da Saúde, Humberto Costa, o que viu na cidade”, explica o professor.
No mesmo ano foi realizada uma audiência, em Recife, entre representantes do Ministério da Saúde e da Asces. O professor, com a então diretora da Instituição, Márcia Charret e o atual diretor Paulo Muniz Lopes, foram ao encontro para apresentar o projeto. Logo foi acertado que uma clínica seria construída para receber os pacientes das campanhas e ficou firmado que a Instituição ficaria responsável por toda infraestrutura e o Ministério pelo equipamento. Vindo para Caruaru, a equipe da Asces iniciou as reforças e, em 11 de fevereiro de 2005, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministro Humberto Costa, o Coordenador Nacional de Saúde Bucal, Gilberto Pucca, Prefeitos, Deputados e Vereadores de toda região estiveram presentes para inauguração da Clínica Asa Branca e também do primeiro Centro de Especialidades Odontológica (CEO), numa Instituição de Ensino Superior, particular do Brasil.
“Sabíamos que o Projeto Asa Branca daria certo, mas não tínhamos noção que daria tão certo, não pensei que iríamos chegar tão longe quanto chegamos e com um material humano de tanta qualidade sendo formado na Faculdade Asces. Nós temos uma dívida social imensa com este país, a boca infelizmente era estatuto de classe e as pessoas menos favorecidas eram envergonhadas. A Odontologia é uma área, um componente de fato da saúde e a saúde não pode ter lucro, a saúde é nossa contribuição social, para que cada vez mais pessoas tenham as mesmas oportunidades e isso está sendo feito aqui”, declarou Gilberto Pucca.
A partir daí novos desdobramentos surgiram para a clínica: um bloco cirúrgico, onde os pacientes são submetidos a procedimentos complexos; implantação do Programa Especial em Lesões Orais (ELO), que trabalha com idosos da Academia das Cidades; o Centro Especializado em Anatomia Patológico Oral (CEAPO), onde de 2001 a 2011, 2.119 biópsias foram realizadas, destas 10% foram lesões malignas, bem como um curso de atualização e de aperfeiçoamento para profissionais da rede municipal, onde são qualificá-los para o diagnóstico e tratamento de doenças de boca e prevenção de Câncer e o surgimento dos CRABS, Centro de Referência Avançado em PE, PB, Litoral Sul e nas Escolas, onde estudantes extensionistas e profissionais vão até as cidades realizar os tratamentos.
A caruaruense Galdina Ferreira, 80 anos, é uma destas pacientes que através da rede particular foi orientada a procurar a Faculdade e há um ano se trata na clínica. “O tratamento que tenho aqui é maravilhoso se não fosse isso realmente não sei qual seria minha situação”, relata Galdina.
Outra paciente, Adeilda Costa, 41 anos, acorda às cinco da manhã e saí da cidade onde mora, Palmares (Zona da Mata de Pernambuco) e vem para Caruaru se tratar na Asces. “Fui orientada a buscar ajuda aqui, pois o meu caso precisava de tratamento especializado, comecei a frequentar a clínica há seis anos. Lembro que cheguei aqui sentindo fortes dores na face e fui prontamente atendida. Com poucas consultas comecei a observar melhoras no meu quadro”, explica Adeilda. Ambas se tratam de uma Disfunção Crânio Mandibular (DCM) e se utilizam da laseterapia.
Em 2010, o Projeto Asa Branca foi eleito pela sociedade do Agreste o melhor projeto na área da saúde, recebendo o troféu Sérgio Omena, do prêmio Jornal Extra de Pernambuco. Em 2011 a Clínica Asa Branca recebeu 1 mil 231 pacientes em demanda espontânea e pelas secretarias de saúde de municípios, todos atendidos gratuitamente nos 12 consultórios da clínica. Os municípios que pretendem ter as campanhas em suas cidades devem através de suas prefeituras e secretarias, entrar em contato com o professor e coordenador do projeto nos telefones: (81) 2103-2089 / 2103-2000.