Deputado Federal fala sobre violência, segurança pública e desarmamento
Confira a entrevista do Portal Asces com o deputado.
Portal Asces – Em sua palestra, o senhor abordou que os índices de violência e mortes em determinada faixa etária se comparam a países que sofrem com guerra civil. Como minimizar esse problema de segurança pública?
Raul Jungmann – No caso dos jovens, temos que identificar aqueles que estão em situação de vulnerabilidade. A partir daí, chegar até eles, com políticas de educação e assistência social voltada para suas famílias que geralmente são desestruturadas e encontrar formas de ocupação. O ideal seria o emprego. Caso não seja possível, que os ocupe com cultura, lazer, esporte e educação, de tal forma que estes não fiquem absolutamente sozinhos jogados à própria sorte, e por isso mesmo, ficando vulneráveis ao convite do crime.
Portal Asces – Deputado, a nova medida provisória que está em pauta no plenário da Câmara altera 14 dos 37 artigos do Estatuto. Essas mudanças eram necessárias, já que o Estatuto é bem recente e tem apenas quatro anos?
Raul Jungmann – De maneira nenhuma. O que está em curso é uma tentativa de desfigurar o Estatuto do Desarmamento, que é uma política Pública que vem dando certo, inclusive através de números. Pela primeira vez, dentro de vinte anos, o índice de crimes relacionados a armas de fogo vem caindo, desde 2003. Esta tentativa representa um tiro no peito nas expectativas de paz e segurança no país inteiro.
Portal Asces – Neste ano, a Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) divulgou em pesquisa que Pernambuco é o estado brasileiro que concentra a maior quantidade de municípios que apresentam os índices mais altos de homicídios do país. O estado reúne 84 das 556 cidades brasileiras consideradas mais críticas. Como solucionar esta situação?
Raul Jungmann – Primeiramente, devemos atacar na raiz cultural do problema. Não é através da violência, nem das armas que se resolvem conflitos. Em segundo lugar, está faltando justiça. Ou seja, está faltando uma capacidade de medicação de conflitos. Finalizando, devemos baixar a impunidade e pôr na cadeia quem pratica crimes. Estas seriam as principais medidas, o resto é desenvolvimento social, emprego e educação eu ajuda a mudar a realidade.
Portal Asces – Foi comemorado no último dia, 25 de novembro, o Dia de Luta para Evitar Violência Contra a Mulher e ao mesmo tempo a sociedade tem informações sobre o sexto caso de mulheres que são detidas em celas de delegacias masculinas no Pará. Afinal, de quem é a responsabilidade sobre esse tipo de crime?
Raul Jungmann – No caso da mulher, a culpa é, sobretudo, de uma cultura machista, violência, desprezo e de uma sociedade que é caracterizada pela violência contra o mais fraco. Seja ele a mulher, criança, adolescente, negro ou pobre. Uma sociedade assimétrica e uma sociedade aonde as pessoas não são efetivamente iguais, elas são formalmente iguais. Em Pernambuco, o problema de violência contra a mulher é o fato da feminilização do crime, ou seja, jovens mulheres que entram no crime ou ao lado de seus companheiros, ou substituindo eles, daí o aumento da violência contra elas. Há que ter uma política voltada para ampliação de toda a base de apoio e sustentação a essas meninas e também as mulheres de um modo geral.
Portal Asces – A Segurança Pública do Brasil tem Solução?
Raul Jungmann – Ela tem solução sim. E acredito que chegamos no fundo do poço e que precisamos mudar. Agora temos que treinar, capacitar e ampliar nossas polícias, reduzindo o nível de corrupção, impedindo que aconteçam violências, colocando controle externo, dando maior formação e ampliando salários. Tornando essa casa dos horrores, que é o Sistema Penitenciário, em alguma coisa que possa ressocializar os presos e sobretudo, acabando com a justiça que é feita para quem tem recurso e dinheiro não ser julgado e não pagar pelos seus crimes.