Conheça o setor que desafia a crise
Em 2016, um dos piores anos da história da economia brasileira, o setor de franquias conseguiu crescer 8% e atingir um faturamento de R$150 bilhões. Mesmo sem considerar a inflação de 6,29% para o período, o desempenho do ano passado mostra que o franchising foi o suspiro de alívio para 1,2 milhão de pessoas empregadas no setor e outros tantos milhares de empresários. Para este ano, os bons ventos apontam para algo ainda mais específico: as microfranquias. Seguindo o modelo das franquias tradicionais, seu principal atrativo é o teto baixo do investimento inicial, que em 2017 passa a ser de R$90 mil, valor acessível a um número ainda maior de pessoas que sonham em ter o próprio negócio.
Ainda em 2014 esse diferencial chamou a atenção de Adriano Trajano, hoje com 36 anos, na época funcionário do departamento de marketing de uma multinacional. “Passei muito tempo fazendo uma espécie de laboratório. Chegava numa loja, comprava um produto e puxava assunto, perguntava sobre o negócio, como estava indo”, lembra. Diante da possibilidade iminente de uma demissão, intensificou a pesquisa com cursos no Sebrae e foi definindo a área em que gostaria de investir. “Pensava em várias coisas, mas fui entendendo o que poderia ser modismo e o que sempre teria demanda”, diz.
Sua escolha foi pelo modelo de microfranquia da Dry Jet, de lavagem automotiva, cujo investimento inicial é de cerca de R$35 mil. Quando houve o desligamento da antiga empresa, fez o que tantos outros empreendedores optaram diante da crise e investiu o valor recebido para montar o próprio negócio em maio de 2015. Os meses que se seguiram não foram fáceis, mas Trajano garante que valeu a pena. “Pode parecer clichê, mas eu pintei e bordei com a crise. Como tenho formação em marketing, investi em divulgação, atendimento diferenciado. Aprendi tanto que sinto como se tivesse feito um curso de graduação”, conta o empresário.
O foco de Trajano na pesquisa e capacitação antes de tirar o dinheiro do bolso segue a recomendação de todos os especialistas. No caso específico das franquias, os conselhos incluem ainda a procura por outros franqueados da rede para levantar a credibilidade da marca e diminuir as chances de um mau investimento. Essa etapa é essencial já que, enquanto houve um aumento no número de unidades franqueadas no ano passado, foi registrada uma retração de 1,1% no número de franqueadoras em todo o País, corresponde a marcas que fecharam ou abandonaram o formato. Esse dado não apresentava queda há anos. “Também é preciso verificar as habilidades para o ramo do negócio, a empatia. Não adianta querer abrir um negócio em uma área que não se gosta”, destaca o presidente regional da Associação Brasileira de Franchising (ABF), Leonardo Lamartine.
Segundo ele, as incertezas que ainda imperam sobre a economia para 2017 são mais um fator a favor do setor. A busca por investimentos com mais garantias leva muitos empreendedores às franquias, que oferecem como segurança a o nome de uma marca já consolidada, um modelo de negócios bem definido, prazos mais curtos para o retorno do investimento e necessidade menor de grandes gastos com marketing. Ou seja, esse pacote é visto como uma chance maior de sucesso.
Mesmo assim, algumas estratégias próprias de boa gestão não devem ser deixadas de lado. Segundo o analista do Sebrae-PE Luiz Nogueira, uma das formas mais eficientes de melhorar os resultados das empresas durante a crise é a redução de despesas. “Há três caminhos para melhorar o desempenho: aumentando o faturamento, reduzindo os custos ou reduzindo, despesas. Mas não adianta melhorar o faturamento apenas aumentando os preços, nem cortar custos diminuindo a qualidade do produto”, destaca. Os meios para pequenos empreendedores reduzirem os custos em sua produção foram compiladas pelo Sebrae-PE na cartilha “Sete dicas para eliminar desperdícios na empresa”, disponível no site https://goo.gl/gPCbVp . Entre as dicas destacadas pelo analista está a simples organização mais rígida de rotas de entrega em função de distância e horário, reduzindo custos com transporte e horas excedentes de funcionários, por exemplo.
Home Based
Dentre os formatos das microfranquias, um tem destaque especial, o home based – também conhecido como home office. Sem a necessidade de arcar com os custos de um espaço físico, o sonho de se tornar dono do próprio negócio fica mais barato e se realiza, de forma geral, em uma rotina mais flexível. “De fato, o estudo feito pela ABF mostra que as microfranquias alavancaram o modelo de ‘home office’ no Brasil, que se mostrou uma alternativa viável para o profissional operar o seu negócio”, afirma o diretor de inteligência de mercado da Associação, Claudio Tieghi.
No aspecto regional, Lamartine destaca o aumento do interesse das mulheres nesse formato em função do interesse de conciliar melhor o trabalho com a vida pessoal. Foram esses os atrativos que encheram os olhos da ex-professora de ensino médio Lucinda Barboza, 35 anos, de Petrolina, Sertão de Pernambuco, que há oito meses se tornou uma franqueada da Mídia do Pão, empresa de publicidade em embalagens de alimentos. “Queria um tipo de trabalho em que eu pudesse fazer o meu próprio horário. Só preciso de um computador, uma impressora e um telefone”, diz Lucinda. Neste mês a empreendedora encerra sua primeira campanha, colocando nas sacolas com propagandas que já irão dar o retorno de todo o seu investimento inicial.
Fonte: Folha de São Paulo