Para enfrentar os desafios do século 21 não basta frequentar as aulas e decorar conteúdo. É preciso mais. Uma das habilidades necessárias é a de aprender a aprender. Ou seja, de maneira autônoma, o estudante precisa saber não só o que, mas também precisa saber como estudar. E, já adiantamos, não basta apenas ler tudo aquilo que o professor orienta em sala de aula.

`Trata-se de desenvolver capacidades para você aprender como disciplina, foco, precisão. E isso pressupõe criatividade, responsabilidade e concentração`, explica o professor Sergio Ferreira do Amaral, da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) para quem aprender a aprender está muito próximo do conceito de autodidatismo.

Simone André, gerente-executiva de Educação do Instituto Ayrton Senna, tem um conceito parecido. Para ela, aprender a aprender é `a autonomia do estudante em gerir sua própria aprendizagem.`

Ou seja, não basta mais para um estudante ficar sentado na sala de aula, recebendo um amontado de conteúdo e sentir que o trabalho todo está feito ao, simplesmente, estudar para uma prova. Segundo os especialistas, o aluno precisa assumir um papel de protagonista nos seus estudos e aprender como estudar aquilo que é de seu interesse.

`É necessário dar ao aluno a escolha do seu caminho. E isso, claro, passa por dar a metodologia de avaliação, ou seja, a prova, levando em consideração o que o aluno quer aprender`, afirmou Amaral.

Mudanças no ensino tradicional

Mas, se o estudante precisa ser protagonista, desenvolver habilidades de estudo e ter autonomia, como fazer tudo isso dentro de um sistema que continua antigo?

Não é tarefa fácil. Para os especialistas, mais do que orientar um aluno a como estudar, ou um professor a como estimular esse aluno, é preciso mudar o sistema. Para Simone, o ensino médio ainda está pouco conectado à realidade.

Desenvolver habilidades e competências dentro do ensino como ele é hoje é como jogar futebol dentro de um elevador. No máximo, dá para fazer embaixadinhas, mas é impossível jogar bola`

Simone André, gerente-executiva de Educação do Instituto Ayrton Senna

O professor Sergio Ferreira do Amaral também faz inúmeras críticas ao ensino médio atual. Segundo ele, atualmente, o aluno se depara com um conteúdo pré-estabelecido e faz um estudo de memorização.

`Hoje, a escola tem um conteúdo programático fechado, uma grade curricular pré-estabelecida e um caminho pré-traçado. Só que o aluno não pode ir à escola para passar no vestibular. O vestibular é só um processo de avaliação. Isso é um grande problema`, afirmou.

Mas, mesmo com métodos convencionais, com aulas tradicionais, expositivas, dentro de sala de aula, o professor tem um papel fundamental de estimular os alunos a aprender a estudar.

Métodos

Segundo Simone André existem algumas metodologias que ajudam o professor a trabalhar com um tipo de ensino mais voltado aos estudantes e suas expectativas. Uma delas é a problematização.

O professor pode trabalhar em sala de aula muito mais por meio de perguntas do que por respostas. São essas perguntas que induzem o aluno ao pensamento e à construção do conhecimento na sala de aula`, diz Simone André.

Outra metodologia é o trabalho colaborativo. Ao apresentar temas mais complexos do que os habituais, o professor pode orientar os estudantes a trabalharem em times. Com isso, os alunos conseguem perceber que mesmo problemas grandes e complicados podem ser resolvidos.

Uma terceira metodologia é a da posição do professor em relação ao aluno. Sem perder o nível de exigência com os estudantes, o professor precisa adotar uma postura de aproximação e construir com cada um uma relação de autonomia.

`A presença pedagógica do professor em aula é de exigência e de acolhimento`, diz Simone.

Uma metodologia que estimula o aprender a estudar é a educação por projetos. O principal é que o estudante aprenda a construir coisas e resolver problemas. E, finalmente, segundo Simone, é fundamental formar leitores e produtores de texto.

E o aluno faz o quê?

Mas, e o estudante? Não há nada que ele possa fazer para aprender a estudar e para assumir um papel de protagonismo na sala de aula? Claro que há. Não é por acaso que os campeões dos vestibulares adotam diversas estratégias e métodos de estudo que vão além da sala de aula.

Ler um jornal diário e livros que não estão na lista dos vestibulares ou visitar museus e mostras de arte também são estratégias de estudo. O problema é que muito disso não é estimulado em sala de aula.

`São poucos os estudantes que têm isso como um aprendizado autodidata. Você tem uma grande parte de estudantes que precisa que a escola desenvolva essas referências. Os bons estudantes utilizaram esse tipo de metodologia por conta própria`, afirma Simone.

`Esses estudantes que vão muito bem no vestibular percebem a educação como algo mais amplo. Por conta própria, acabam incorporando uma obrigatoriedade ou uma disciplina de desenvolver atividades relevantes fora da sala de aula`, afirma Amaral.

Na sala de aula

No dia-a-dia da sala de aula, o professor acaba se deparando com um desafio ainda maior. Edison Lins é professor da rede estadual de ensino em Campinas e sempre buscou ir além do currículo básico com seus alunos.

Visitas a grandes universidades ou a museus na cidade de São Paulo fazem parte do estímulo que o professor vê como fundamental a seus alunos. Não por acaso, neste ano, um aluno seu de uma escola pública de Campinas passou no vestibular de medicina na Unicamp aos 16 anos de idade.

Para Lins, o aluno não percebe automaticamente que é possível buscar por conta própria novos conhecimentos.

`O estudante precisa ser levado a ter interesse e motivação e perceber que é possível aprender a aprender, ou seja buscar novos conhecimentos, aquilo que não sabia e compreender melhor o que já sabia por experiência`, afirmou.

Aprender a aprender, também é apreender, perceber, captar. Isso nunca será dado plenamente pelo professor, o aluno tem de assumir parte ativa no processo que só se realiza com a interação das várias partes envolvidas`,diz o professor da rede estadual de SP.

 

Fonte: Clipping Educacional