O Ministério da Educação (MEC) decidiu criar uma plataforma com os dados de cotistas e ex-cotistas negros e indígenas para que eles possam ser conectados por empresas preocupadas em diversificar seus quadros de funcionários. A previsão é que o projeto seja finalizado até o fim deste ano. “Não dá mais para aceitar que se diga que não há negros em posições de chefia porque faltam profissionais qualificados”, afirmou José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares.

Segundo pesquisa do Instituto Ethos de 2016, só se declaram pretos e pardos 4,7% do quadro de executivos de grandes empresas. A inserção do negro no mercado de trabalho foi discutida no evento Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, na última terça (21), no auditório da Folha.

O ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Ayres Britto defendeu políticas afirmativas. “Não basta não discriminar. É preciso compensar por desvantagens historicamente sofridas e acumuladas. É o que diz a constituição”, afirmou.

Para o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), há “muros e mediterrâneos” que se param o mundo, sendo a educação “a escada e o barco” que pode levar os excluídos a vencer obstáculos. “O ideal é erradicar a necessidade de cotas, mas por enquanto isso não é possível”, disse. No debate, Ivana de Siqueira, responsável pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), órgão do MEC, afirmou que ainda há muito preconceito em relação aos cotistas. “Acredita-se que esses alunos vão mal e não concluem o curso, o que não é verdade. Já temos pesquisas que apontam que as notas deles durante a trajetória universitária são iguais às dos demais estudantes”.

A secretária do MEC e o reitor da Zumbi dos Palmares criticam a USP e Unicamp por serem pouco sensíveis às cotas para negros. “Nós precisamos sentar lá com o reitor, com o governador, com o PSDB, para dizer que não entendemos como que um partido da social-democracia não responde adequadamente à necessidade de fazer essas adequações”, disse Vicente.

JUDICIÁRIO

Helena Lins Coelho, vice presidente do tribunal regional do trabalho da 15ª região (Campinas), disse que hoje há um Judiciário “muito mais comprometido com o contexto social”. Ela citou ações afirmativas tomadas pelo tribunal voltadas para emprego de negros. “No nosso caso, destinamos 20% das vagas para candidatos negros no concurso para magistratura do trabalho”.

No fim do evento, representantes de seis grandes empresas – Itaú, Universia (Santander), Bradesco, Magazine Luiza, Microsoft e Unilever – citaram ações que vêm sendo tomadas para fomentar a igualdade racial. “É preciso combater os vieses inconscientes que muitas vezes existem em quem seleciona os novos funcionários” disse Jane Graziele, diretora de marketing para América Latina da Microsoft. O debate, promovido pela Folha e pela Faculdade Zumbi dos Palmares, foi mediado pela jornalista Fernanda Mena.

Fonte: Folha de São Paulo