Nós que trabalhamos no magistério tínhamos há algum tempo atrás muita dificuldade para preparar uma aula, principalmente na nossa área (odontologia) onde usamos muitas imagens. Como era privilégio de poucos possuir uma boa câmera e saber operá-la, dependíamos sempre de um fotógrafo que muitas vezes falhavam, por se tratar de um trabalho muito minucioso onde os detalhes fazem a diferença, outras vezes o filme queimava, a revelação ficava deficiente e todo o trabalho ia por água abaixo sem condições de serem refeitos. Era um verdadeiro martírio. Portanto, o sonho de cada um era possuir uma potente máquina para executar suas tarefas diárias. E com o nosso colega C.M.F. – excelente ortodontista – não era diferente. Possuir uma CANON era seu maior desejo. Mas, em começo de carreira, e o salário muito curto, tornavam quase impossível a concretização do tal sonho. Um belo dia, foi ao Banco do Brasil receber sua aposentadoria da Marinha – ele era marinheiro – quando se depara com um camelô vendendo por um terço do valor de marcado, a tão sonhada máquina. Aí o colega esqueceu de vez os compromissos que aquele dinheiro ia saldar e partiu para negociar com vendedor. Pechinchou, pechinchou, e ainda conseguiu um abatimento sobre o valor de um terço. Pelo amor de Deus, não vá embora. É só o tempo de sacar o dinheiro, disse para o camelô. Volte logo doutor, que só tenho esta e tem muita gente querendo. E lá se foi ele sacar o dinheiro. Já de volta, e agora com uma tremenda dúvida: compro ou não compro ? Resolveu comprar. Os credores que se agüentassem, mas a oportunidade era aquela e não iaperdê-la. Pegou todo o dinheiro e passou para o vendedor. Recebeu nas mãos a tão sonhada máquina, contemplou-a demoradamente, quase chegando às lágrimas de tanto contentamento. Voltou ao normal quando o camelô lhe disse: Doutor, me dê a máquina para colocar na caixa. Ele entregou, o vendedor virou-se de lado, e logo lhe entregou de volta, agora devidamente encaixada, e retirou-se. O doutor ainda sem acreditar na sua sorte, caminhou para o consultório para inaugurar a tão cobiçada CANON. Mas, durante a caminhada, percebeu o peso do embrulho um tanto diferente daquele que tinha estado em suas mãos e resolveu abrir a caixa. Quando abriu, sua surpresa foi enorme, e gora as lágrimas chegaram mesmo, pois dentro da caixa estava apenas um pedaço de tijolo.