A entrada da escultura popular no circuito oficial de artes remete a marcos histórico como o Movimento Modernista de 1922 e o Movimento Regionalista do Recife, iniciado em 1923. De objetos utilitários ou brinquedos vendidos nas feiras, estas criações também passaram a ser vistas como itens da chamada arte popular. Exemplo disto é a exposição Aprendendo com a inovação na arte do barro, que leva ao Centro Cultural Correios do Recife (CCCR) peças que o mestre Luiz Galdino produz no Alto do Moura. A inauguração será hoje, às 19h. Nesta sexta-feira, no mesmo horário, ele participa de uma palestra no local.

O primeiro contato de Luiz Galdino com a arte de modelar o barro foi como o de muitos artistas da região: ainda criança, por influência dos familiares (ele é filho de ceramistas e sobrinho do mestre Manoel Galdino). Aos 8 anos, o garoto começou a ajudar a mãe na confecção de objetos como potes e jarros. “Depois fiquei mais treloso, comecei a fazer figuras como homens do campo e animais”, recorda ele.

Há uns cinco anos, ele passou a destacar em sua produção obras que retratam uma mulher brejeira. “Me preocupo em fazer uma boca mais bonita, olhar expressivo, vestidos mais decorados, alguma sensualidade. Foi o maior sucesso”, afirma Galdino.

Fazem parte desta exposição muitas destas mulheres curvilíneas, com vestidos decotados, cabelo comprido. O tamanho delas vai desde poucos centímetros até esculturas com cerca de 1,80m, que demoram cerca de 30 dias para serem feitas. “Se pedir de 5, 6, 10m eu também faço”, diz o artista.

Para exibir as obras, o curador Alexandre Filho criou nichos que remetem ao ambiente da região: uma casa de taipa para a escultura da costureira, uma igreja para a noiva, etc. A cenografia também reproduz um arraial, com esculturas que mostram um trio de forró, vendedores e alguns casais dançando. Outro conjunto mostra a própria criação das peças em barro. Completam a série de obras de personagens como Maria Bonita e Lampião, Luiz Gonzaga e uma banda de pífanos formada por mulheres (uma das marcas do trabalho de mestre Galdino).

O processo criativo do artista é retratado em um documentário que será exibido durante toda a exposição. Galdino diz que está sempre produzindo e comenta a situação dos artesãos do Alto do Moura: “Ainda somos carentes na questão dos fornos. Usamos a queima da madeira de maneira sustentável, mas nossos governantes poderiam fazer um trabalho por lá. Isso também poderia até ser feito por cooperativas e associações, mas é complicado”.

Ele afirma que os mais jovens continuam demonstrando interesse em trabalhar com o barro, ainda que com outra frequência. “Permanece acontecendo isso, só que é mais devagar. A escolaridade aumentou, indústrias estão se instalando na região e isso vai atraindo as pessoas. Mas com certeza a arte não vai cair, nem que seja nas horas vagas as pessoas vão produzir”, prevê.

» Centro Cultural Correios Recife. Avenida Marquês de Olinda, 262, Bairro do Recife. Visitação: de terça a sexta-feira, das 9h às 18h, sábado e domingo, das 12h às 18h. Até 15/8. Gratuito. Fone: 3224-5739

Fonte: JC Online